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" Morreu o Chico Viola !"
assim entrou na venda do meu pai, esbaforido, um grande amigo dele o Oswaldo "Sarda".
Meu pai quando encerrava o trabalho lá pelas nove da noite do sábado, cerrava as portas do seu armazém e se reunia com
vários amigos para jogarem Sueca, não a dinheiro , mas por pura diversão , a não ser o famoso,quem perde paga a cerveja, ou algum petisco.
Meu pai , muito gozador e sabedor que o Sarda também era, falou e daí antes ele do que eu, encolhendo os ombros. Os outros
, parceiros ou espectadores que esperavam a vez para jogar , também levaram na brincadeira.
Quase todos que ali estavam eram fãs do Francisco Alves e jamais falariam isso. Meu pai tinha duas fotos autografadas do Chico Alves.
Diante da insistência do Sarda, que havia chegado atrasado na Sueca, pois ficara ouvindo o noticiário do rádio, meu pai resolveu ligar o aparelho que possuía no empório.
Todos ficaram estupefatos, foi um banho de água fria na animação do pessoal, acabou o jogo, começaram os comentários e a consternação foi total.
Sim , o Chico Viola morreu.
O Chico que uma noite a convite do Dr. Alfredo, na época um jovem investigador, após um show na rádio Nacional de S. Paulo, o levou
ao bar do seu Teixeira, onde se reunia o pessoal do Dragão Paulista, para bater um papo com a moçada .
Claro que levou o seu inseparável violão, como dizia numa de suas canções, seu companheiro dileto.
Quando ele adentrou o bar ninguém acreditou e a notícia se espalhou muito rápido e mesmo sendo uma noite de dia de semana e
naquele tempo tinha emprego para todos , ficou até gente na calçada, num silêncio total , só interrompido pelos aplausos e pelos pedidos de músicas.
Um cantor que fazia sucesso desde os anos 20 , mas sucesso mesmo, ali , reunido com uma gente simples, num bairro simples , sem refletores, sem cortinas e tapetes de veludo, ninguém engravatado.
A relação com a nossa região ficou ainda mais patente , pois o seu último show , o último de sua vida era para ser no Teatro Colombo, mas , devido a grande multidão, a rádio Nacional e o apresentador do programa o Nelson de Alencar , que inclusive tinha um programa de grande sucesso A Galera do Nelson, mudaram o local, Chico e o Regional do Rago, subiram na sacada do Minas Gerais Clube e cantaram e tocaram para uma multidão que lotou totalmente o Largo da Concórdia.
Dizem os mais velhos , alguns até foram ver "O Rei da Voz", que o show foi maravilhoso, como sempre , só que desta feita o Chico cantou e até estourou o horário do programa, porque o povo não cansava de lhe pedir músicas e ele atendendo.
No dia seguinte faleceu num acidente na Via Dutra quando retornava ao Rio , onde morava e na lápide de seu túmulo no cemitério S. João Batista na Cidade Maravilhosa, a frase que depois se tornou um dos versos de uma música feita em sua homenagem pelo compositor David Nasser, se referindo ao seu instrumento violão ou viola como chamavam no Rio.
Diz a frase " Tu, só tu , madeira fria , sentirás toda a agonia do silêncio do cantor."
A maioria dos meus leitores talvez não tenham ouvido falar nesse orgulho de nossa música, mas aos que se lembram, como eu que apesar de ser muito pequeno nesse dia, vi de perto a tristeza de alguns de seus fãs, como meu saudoso pai, de minha mãe ,de minhas tias e outros amigos e parentes.
Ao Francisco de Moraes Alves nossas preces e nossa lembrança.
Cliquem no link e ouvirão algumas de suas músicas.
Jayme Antonio Ramos
historiasdopari.wordpress,com
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