O PARI E A COPA ATRAVÉS DO TEMPOS
JAYME ANTONIO RAMOS
Mais uma Copa do Mundo se inicia , mais fogos , buzinas, cornetas, o bairro se veste de amarelo.
Mais uma esperança de título para o nosso país.
Meu pai me contou sobre a Copa de 38, ninguém tinha rádio e na João Teodoro , uma loja dispo-
nibilizou ao público o seu aparelho radiophonico , para ouvir a primeira Copa do Mundo irradiada
para o Brasil. Quanta raiva que se ficou do locutor brasileiro Gagliano Neto, chamado por torcedo-
res de Italiano Neto, pois narrou os gols da Itália que nos eliminaram com um certo ênfase.
Minha mãe se lembra da Copa de 50, pois quando retornava ao término da Final contra o Uruguai
da casa de uma amiga, viu o bairro deserto, pessoas com as mãos nos queixos nas portas dos bares,
mesas com garrafas e petiscos, alguns intactos e como disse o poeta , serpentinas e confetes pelo chão.
E olha que não foi por falta de aviso.
O meu pai foi com alguns amigos ao Pacaembu , assistir o jogo pela Copa, Uruguai e Espanha.
A Furia espanhola , que havia sido goleada pelo Brasil por 6 a 1, vencia os orientais por 2 a 0 e no finalzinho so-
freu o empate. Na saída , uma voz na multidão alertou , cuidado com os uruguaios !
Foi vaiado e gozado pelos torcedores.
Na semana seguinte a esse jogo, os uruguaios ficaram concentrados no Canindé, na época estádio do S. Paulo F. C..
Alguns dos jogadores da Celeste Olímpica , saiam e iam bebericar por bares do bairro e tomavam bagaceira.
Fizeram amizades e tocavam violão junto com frequentadores brasileiros, num tempo em que ser humano era mais
hospitaleiro. Fizeram um círculo de amizades e gozavam , batendo com as mãos no braço, nosotros vamos a ganar de los brasileños,
porque tenemos sangre, garra. Os companheiros de bar brasileiros davam gargalhadas, argumentando que eles iriam tomar uma goleada.
No domingo seguinte aconteceu o que todos sabemos e os bebuns gozadores levaram a Taça Jules Rimet novamente
para Montevidéu.
Na Copa de 54 , lembro que estava na casa de meu avô Maximiano na rua Casemiro de Abreu e ouvia a irradiação da eliminação
do Brasil pela máquina húngara e locutor do rádio xingando o árbitro dos mais variados impropérios e dizendo que o mesmo era comunista.
Um dos meus tios torcendo contra o Brasil pois o técnico Zezé Moreira não havia escalado o corinthiano Baltazar.
De tanto sofrer com a nossa seleção , a Copa de 58 levou um Brasil desacreditado , ainda mais sendo sorteado para uma chave dificílima.
Mas os canarinhos foram um a um eliminando todos os bichos papões que apareciam.
Chegou o dia da grande Final contra a Suécia e velhos fantasmas nos apareciam, a tão ouvida final de 50, que eu não vi, e outras terríveis experiencias ,mas ouvia muito
falar, a de 38, que perdemos para a Azzurra.
Logo de início tomamos um gol dos donos da casa, meu pai estava na venda ouvindo , deu um murro no balcão de tanta raiva.
Aí os gols foram surgindo e conquistamos o Mundial.
Que festa!
As pessoas se abraçavam na Rio Bonito, fogos em todos os lados, carros buzinando.
Até um fleugmático nosso vizinho saiu à rua vibrando, comprou um litro de conhaque no empório de meu pai e pediu um copo e todo mundo que passava por lá ele oferecia um gole.
Aí ,veio a Copa de 62, mais festa e a de 70, foi uma explosão , pois foi a vingança contra os peninsulares na decisão , ainda mais que tínhamos vizinhos oriundi
daquele belo país e que prepararam uma bela festa, com direito a um belo balão com as cores da bandeira itálica.
O Pif - Paf explodiu, o Nardinho saiu com o seu caminhão buzinando e levando a molecada da nossa rua comemorando em cima da carroceria.
Nas copas de 94 e 2002, tivemos comemorações no bairro porém mais mais discretas , pois não estavam entaladas nas gargantas, como principalmente as da
Copa de 58.
São lembranças desses momentos mágicos e que ficaram marcados na nossa memória.
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