Cem mil pessoas frequentam, diariamente, o Brás, um dos maiores centros de comércio de São Paulo. E essa região passou a atrair bandidos, que se passam por camelôs para atacar e roubar. Durante dois dias, os repórteres César Galvão e William Santos registraram a ação dessas quadrilhas.
A mochila nas costas é um convite para os ladrões. Há sempre alguém abrindo o zíper e pegando o que tem dentro. As calçadas do Brás estão sempre cheias. Gente do país inteiro vai fazer compras lá. É o tumulto que facilita a vida dos ladrões.
No meio da manhã, um grupo de ladrões se prepara para agir. Eles saem em busca de carteiras. Os idosos são alvos fáceis. Um deles chega a segurar a mão do rapaz de camisa vinho que aponta para a frente e tenta despistar. A carteira é jogada no chão sem dinheiro. E o idoso se abaixa para recolher o que sobrou. O lugar é o preferido de três quadrilhas. As lonas abertas no chão por vendedores de roupas e de perfume transformam o calçadão em corredores estreitos. Alguns ladrões se passam por ambulantes para roubar.
No meio do tumulto, um homem é cercado por oito jovens. Os ladrões enfiam as mãos nos bolsos enquanto ele não consegue sair. Quem percebe que vai ser assaltado, e tenta escapar, é agredido. Quem já foi vítima, sofre só de passar pelo Brás.
"Eu tenho é medo. Realmente, a gente vive com medo. Já testemunhei vários assaltos e já fui também roubado", conta uma vítima.
Um rapaz é espancado no meio do Largo da Concórdia. São muitos chutes, golpes na cabeça. Até que duas mulheres incomodadas com a pancadaria chegam para separar. Ele sai atordoado e com a sacola vazia.
Também há mulheres que roubam no mesmo calçadão. Três mulheres participam de outra quadrilha e roubam junto com três homens. Eles cercam um homem de blazer preto. Depois, tentam abrir a mochila da mulher.
Os ladrões passam o dia no Brás. Escolhem a hora e o melhor lugar para agir. Lá, são eles que vigiam a polícia. Quando os policiais militares estão na praça, eles vão para os calçadões. E quando a polícia sai de vista, eles partem para fazer uma série de ataques. O comércio sente que começa a perder para a violência.
"Geralmente o cliente está pedindo pra gente ir até lá. Tem medo de vir pra cá", diz um vendedor.
Os ladrões tomam até a televisão de um rapaz. Um ladrão escala a janela do ônibus para roubar celulares dos passageiros. Quando anoitece, é a vez da "gangue do gogó" entrar em ação. Os ladrões são chamados assim pelos comerciantes porque dão gravatas nas vítimas, jogam elas no chão e batem até conseguir tirar tudo o que elas levam de valor. Em uma noite, mais de dez pessoas são atacadas e roubadas do mesmo jeito.
Depois, os ladrões, que se disfarçavam de camelô, recolhem as lonas na calçada, uma mulher conta o dinheiro e um deles até passa pela polícia na hora de ir embora.
A Secretaria da Segurança Pública declarou que intensificou as ações policiais na região central de São Paulo. E que, no primeiro semestre, os roubos caíram 18%, e as prisões aumentaram na mesma proporção. A secretaria também afirmou que vai redirecionar o patrulhamento para os locais mostrados na reportagem.
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