UM TOURO NO LARGUINHO
Um domingo ao anoitecer, muito calor, década de 30, o nosso larguinho estava repleto.
Ah! para os visitantes do site, larguinho é o nome carinhoso que , nós os parienses sempre demos à Praça Padre Bento, ou o largo da igreja.
Como dizia, ao anoitecer nessa época era o horário de pico do footing do larguinho.Sim , porque a maioria das moças, ao terminar as nove badaladas do sino da Igreja Santo Antonio , tinha que estar chegando em casa.
Pois bem moças giravam de um lado e rapazes de outro conversando e como se dizia na época, tirando linha, ou seja paquerando. Namoros mil, tiveram início neste footing, rodinhas de moças e rapazes se formavam. No meio do largo a molecada brincando e alguns vigiando as irmãs e mexendo com as irmãs dos amiguinhos. Molecava terrível era a da daquela época. Enfim, o footing ia correndo bem como sempre , com aquele ar romântico por parte de rapazes e moças e aquelas brincadeiras próprias da infância. O largo estava repleto, bombando como se diz hoje.
De repente não mais que de repente, como disse o poeta , surge na praça um enorme touro, que havia escapado do Pátio Ferroviário do Pary, assustadíssimo. Muitas pessoas vinham correndo atrás do touro, uns atiravam pedras, outros gritavam para alertar as pessoas. Para completar a apavoração o touro irrompe no meio do largo, todo mundo correndo , gritando, fugindo daquele enorme animal. As crianças atiravam o que encontrassem no touro. O touro bufava enfurecido, eis que surge Manolo, um espanhol que vinha da Caetano Pinto paquerar no Pari. Na altura onde hoje existe o supermercado, havia um sobrado com um portão de madeira, Manolo , el gran toreador del Brás, tirou o seu paletó e começou a chamar o touro, o bicho fitando o espanhol, criou-se um clima de suspense. O touro partiu para cima de Manolo, que chacoalhava o paletó com a imponência de um Dominguim, o animal avançava ,quando há uns dez metros de distância, Manolo provou que além de toureiro era um grande saltador de obstáculos, ao pular o portão da casa e rasgar a calça do seu terno de domingo e el toro passou reto pelo artista.
O espetáculo continuava num misto de emoção, medo e agora risadas, com o pulo, a cara de medo de Manolo ao ver que o touro não estava para brincadeiras e a calça rasgando. Vaias, aplausos, gritos , risos, as reações as mais diversas, prosseguiram até que chegaram os bombeiros ( sempre eles ) e conseguiram laçar o animal , derruba-lo e amarrar as patas com a ajuda de dois fortes lituanos do Canindé e envia-lo de volta ao vagão do Pátio do Pary.
Este fato me foi narrado por pessoas que o presenciaram, entre as quais o meu saudoso pai.
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