O distrito mais doce da cidade de São Paulo parece estar congelado no tempo. Apesar de receber cada vez mais habitantes, o Pari, com suas inúmeras docerias de atacado, está longe de acompanhar o ritmo do desenvolvimento da capital.
Margarette Valseche, 67, nasceu na rua São Biagio, onde sua mãe, uma filha de italianos natural de Chicago (EUA), mora até hoje. Lá, ela diz encontrar a tranquilidade de antigamente, mesmo morando perto do centro velho de São Paulo.
Mesmo tão perto do agito paulistano, algumas vias do Pari parecem estar a quilômetros da capital paulista."Temos de tudo aqui. Ando 25 minutos e estou no Mercado Municipal, e o metrô é logo ali", diz a aposentada. A localização de fato corrobora com Margarette. O distrito conta com um estádio, o Canindé, está ao lado da marginal Tietê e próximo à estação Armênia do metrô.
A São Biagio é um desses exemplos. Estreita e com pequenos sobrados lado a lado, um pedestre estranho não consegue passar despercebido no local. "Mas, no Natal e em dias de jogos, isso aqui vira a avenida Paulista", brinca Margarette ao se referir às datas em que a via vira atalho para o estádio da Lusa.
SOSSEGO AMEAÇADO
Por conta da ótima localização, alguns moradores do Pari estão em contagem regressiva para a tranquilidade do bairro acabar.
Alexandre Lima, 33, mantém no bairro, há nove anos, um tradicional e pequeno supermercado. Ele vê com bons olhos a recente percepção do mercado imobiliário. "Você prefere um monte de galpão desativado, cheio de ratos, ou um conjunto de torres?"
| Tuca Vieira/Folhapress | |
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A tranquilidade da rua São Biagio, no bairro do Pari, região central de São Paulo; o sossego pode acabar |
Os novos prédios, porém, ainda não saíram das plantas e muitos galpões ainda continuam vazios. Nada, porém, que passe insegurança para a aposentada Janethe de Mattos Souza, 74, moradora do bairro há 40 anos. "Aqui não tem crime violento, só ladrão `pé de chinelo', que rouba botijão de gás". brinca.
Os números do 12° DP (Pari) dão razão a Janethe: não houve um único caso de latrocínio entre janeiro e novembro de 2011.
Segundo José Eduardo de Assis, especialista da USP em evolução urbana, o momento é transitório. "Esse aparente congelamento no tempo geralmente acontece por conta de uma população mais idosa, que não pretende vender os imóveis", atribui o professor.
De acordo com a Fundação Seade, após perder quase mil habitantes, o Pari conseguiu recuperar população em 2011, a ponto de hoje registrar densidade demográfica de 6.400 habitantes por quilômetro quadrado --a mesma de 15 anos atrás.
Extraída da Folha de São Paulo
Rafael Marchiori
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