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Frei Medella e o Cristo do chicote nas primícias de Frei Leonardo



São Paulo (SP) – O presbítero Frei Leonardo A. dos Santos celebrou as primícias na Igreja Santo Antônio do Pari, em São Paulo, neste domingo (11/03), às 10 horas. Frei João Francisco  pela primeira vez serviu a Mesa do Senhor como diácono. Os dois foram ordenados neste sábado (10/03), pelo Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer.
Um grande número de frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição participou da celebração, entre eles o Secretário da Formação e Estudos, César Külkamp, e o Secretário da Evangelização, Frei Antônio Michels. Frei Leonardo teve como concelebrante o pároco da Paróquia Santo Antônio do Pari, Frei Gilmar José da Silva.
Como já é tradição na Província, o presbítero escolhe o pregador da Primeira Missa. Frei Leonardo escolheu o seu amigo, ordenado presbítero no ano passado, Frei Gustavo Medella, orientador pedagógico no Seminário São Francisco de Assis, em Ituporanga.
Com muita clareza, o pregador prendeu a atenção da assembleia ao falar, segundo ele, de um tema difícil: o Cristo do chicote.  Mas com maestria, Frei Gustavo Wayand Medella fez uma bela reflexão. Acompanhe a seguir:
Estimados irmãos, Frei João Francisco e Frei Leonardo Aureliano, gostaria de pedir licença a seus pais, à Dona Maria Lindete, mãe do Frei João Francisco, à Dona Maria e ao “Seo” José, pais do Frei Leonardo, a todos os seus familiares e amigos, pedir licença ao Frei Fidêncio, nosso Ministro Provincial, e a todos os confrades, padres, religiosos e religiosas, a esta comunidade de fé de Santo Antônio do Pari.
Peço licença para começar esta reflexão brigando com vocês dois, ou conforme se diz em “mineirês” láem Ponte Nova, terra do Frei Leonardo: Vou começar “Achano ruim c´ocês… Cês armaro uma arapuca pra mim, uai!”
Seria tão mais fácil se esta primeira missa fosse celebrada no dia do Sagrado Coração, por exemplo. Poderíamos falar sobre Jesus, manso e humilde de coração, que oferece graça e consolo, um ombro amigo para depositarmos nossas alegrias e tristezas… Poderia ainda ser o Domingo do Bom Pastor, aquele que conhece e apascenta suas ovelhas, que cuida, orienta e conduz… Ou, quem sabe, o Cristo Rei do Universo, Senhor glorioso e vencedor, que nos garante o sucesso e a vitória… Ou, até mesmo, o Senhor transfigurado, como celebramos na semana passada, figura cheia de força e atração, junto à qual temos vontade de permanecer próximos pelo resto da vida…
Mas não! Vocês acharam de celebrar esta primeira missa logo no domingo em que a liturgia nos apresenta o Jesus Cristo do chicote, da briga, da revolução, da mudança… Aquele que grita, vira a mesa, quebra tudo, “chuta o pau da barraca”. A figura que nos provoca, desaloja, que nos tira da zona de conforto, que nos subtrai o bem-estar acomodado. E ainda mais, o Cristo Crucificado a quem São Paulo se propõe pregar… O que dizer, Frei Leonardo e Frei João Francisco, sobre esta face de Jesus que a Liturgia de hoje nos apresenta?
Como já aceitei o convite e agora ficaria feio desistir do encargo a mim confiado, não adianta reclamar. Por isso, de forma muito modesta, vou tentar identificar algumas possíveis influências da proposta apresentada hoje por Jesus na vida individual do ser humano, na Igreja e na sociedade. E, ao fim, tentar perceber alguns destes elementos na forma de vida abraçada por Francisco de Assis.
Todos nós, Frei Leonardo e Frei João, somos seres de necessidades, de sonhos e de projetos. Viemos ao mundo não por escolha própria, mas chamados por Deus através da relação de entrega entre um homem e uma mulher, nossos pais. Desde o princípio, precisamos de apoio e amparo. Crescemos e construímos nossa identidade, necessariamente sob a influência do meio onde vivemos, das pessoas com quem convivemos, das relações que travamos. E, nesta trama complexa na qual estamos inseridos, vamos descobrindo nossos anseios e desejos: de satisfação das necessidades, proteção, segurança, fama, reconhecimento, sucesso…
E, no infinito de possibilidades que a vida oferece, fomos apresentados a Jesus Cristo, o Verbo de Deus Encarnado. Para nós, Ele é modelo de vida, de missão, de postura. No entanto, meus amados irmãos, ao nos depararmos com o Cristo-modelo, percebemos nossas contradições interiores e somos convocados a transformar a nossa vida, sempre para melhor.
O mesmo Jesus que caminha conosco, que cuida de nós, quando necessário adentra nosso coração e age como agiu no templo de Jerusalém. Expulsa de dentro de nós, a chicotadas, os planos de brilho e grandeza, espalha pelo chão as poucas moedas sem valor que, iludidos, estávamos guardando no cofre de nosso egoísmo: a prepotência ensimesmada, a sede de acumular bens, a ânsia de levar sempre vantagem, tudo muito próprio da fragilidade humana.
         No entanto, Cristo não destrói por destruir. Não tira o que tínhamos sem oferecer algo melhor, muito melhor! Jesus sabe que uma casa destruída é muito semelhante a uma casaem construção. E, por isso, se pela fé somos impelidos a fazer esta verdadeira revolução em nosso interior, purificando nossas motivações e escolhas, a mesma fé nos garante que, com Cristo, reconstruiremos o templo de nossa vida e de nossa história, com fundações mais profundas, mais assentadas e consistentes, que nos garantem voos mais altos em direção ao mais belo que podemos construir quando caminhamos na companhia do Senhor.
         Certamente algo semelhante aconteceu com vocês, Frei João e Frei Leonardo. Na caminhada que empreenderam até aqui, não devem ter sido poucas as vezes em que tiveram de confrontar seus sonhos e planos com a proposta de Jesus, e com certeza devem ter levado algumas rasteiras. Mas depois de caírem, foram capazes de se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, como diz um consagrado samba-canção: “Levanta, sacode a poeria e dá a volta por cima!”. E hoje vocês estão aqui, reafirmando sua resposta positiva ao Senhor, conscientes de que este caminho de cair e se levantar, de permanente discernimento e conversão, é parte integrante e necessária do discipulado.
         Agora vamos olhar um pouco, Frei João Francisco e Frei Leonardo, para a nossa Igreja, recordando, é claro, que as lutas travadas individualmente no coração de cada ser humano repercutem também no seio desta grande mãe, que é divina e humana, santa e pecadora. Dentre as provocações que o Cristo do Evangelho de hoje apresenta à Igreja em constante transformação, está a necessidade de vencermos toda a tentação de triunfalismo. O Cristo do chicote nos convida a apostar numa Igreja do serviço, da defesa dos pobres, do combate à injustiça e à exploração, da construção de pontes que diminuam distâncias e de correntes que não aprisionem, mas aproximem, unam e comprometam as pessoas.
Uma Igreja onde a estética caminhe de mãos dadas com a ética, na qual as belas liturgias, os toques de trombeta, os megatemplos, as grandes concentrações de fiéis não sejam apenas um espetáculo aos olhos e ao coração, mas expressão de um compromisso, de um elo vital que lance as pessoas à atenção e ao cuidado integral da vida do ser humano, pois cada pessoa, por sua dignidade, é “casa de toda humanidade” e habitação de Deus.
         Uma Igreja de escuta, de diálogo, de ouvidos atentos para distinguir a voz do Senhor que clama na vida, no mundo e nas pessoas. E vocês, Frei João e Frei Leonardo, com os ministérios que assumem, tornam-se responsáveis diretos de atuar com Jesus na construção comprometida de uma Igreja de comunhão, de partilha, de serviço à humanidade.
         Neste momento, debrucemo-nos um pouco sobre a sociedade, recordando que os olhares apresentados aqui são, na verdade, um único e mesmo olhar, sob o prisma do Cristo do chicote, sob a lente do Crucificado ao qual São Paulo desejou pregar.
E para nossa sociedade, que provocações o Cristo apresenta? Numa época marcada pelo individualismo e pela competição, quando estouram em vendas os livros de autoajuda, de receitas prontas para o sucesso, de regras de ouro para se juntar o máximo de dinheiro, qual é a contribuição do Cristo da Cruz? E diante da publicidade, que promete mundos e fundos, qual é a contraproposta do Senhor?
Assim como o fora para os gregos, certamente a mensagem do Cristo Crucificado, preso ao madeiro, imóvel, limitado, suspenso entre o céu e a terra, soaria como loucura diante da promessa de “um ser humano sem limites e fronteiras apresentada por certa operadora de telefone celular… “Você, sem fronteiras”. Ou seria escandaloso, como para os judeus, a imagem de um ser humano humilhado e maltratado injustamente para um jovem que investe o melhor de seus esforços e energias com objetivo de se tornar o número um da empresa onde trabalha, num cargo que seria o sacramento inquestionável de seu sucesso.
E a cruz como sinal de salvação, que sentido faz para nossa sociedade? Não é tarefa fácil pregar o Cristo Crucificado. Muitas vezes é remar na contramão de uma forte correnteza, assumindo uma postura incompreensível, considerada insana diante dos valores que calam fundo no seio da comunidade humana. Mas facilidade o Cristo não promete. Ele mesmo nos alerta para o risco das perseguições. Nós não devemos temê-las. Nosso maior medo deve ser o de nos deixarmos levar pela onda poderosa que nos assola, que nasce lá dentro de nosso coração, naquele tirano ávido por sucesso e poder que habita dentro de nós.
É dialogando com este tirano, é buscando conformá-lo à figura de Cristo, que vamos, a partir de nosso testemunho, verdadeiro martírio, apresentar a nossos irmãos e irmãs a maravilhosa oferta de sentido de vida que nos apresenta o Senhor na cruz. O caminho proposto por Jesus é encantador por si, porque divino em sua essência mais profunda. No entanto, faz parte do mistério da encarnação o fato de Deus querer contar conosco para percorrer com Ele esta estrada que leva à vida em plenitude. E tantos mais de nossos irmãos e irmãs vão se sentir motivados a se lançar nesta aventura com Jesus quanto mais intenso for o nosso entusiasmo de discípulos e missionários, nossa diakonia, nosso serviço, no seio da sociedade.
E, para concluir, Frei Leonardo e Frei João, vamos olhar rapidamente para nosso Pai Francisco. Certamente poucas pessoas na história da humanidade abriram tanto espaço na própria vida para Deus agir como Francisco abriu. A aproximação com o Senhor virou do avesso a vida daquele jovem italiano do século XII. Inverteu seus sonhos, mudou seus projetos, lançou-o num modo de experiência inédito para a sociedade da época. Todo desejo de luxo e grandeza, os grandes investimentos do pai em sua carreira militar, as pompas, as festas, tudo ficou para trás… Jesus Cristo fez uma verdadeira revolução interior em Francisco. O jovem de Assis, com seu edifício íntimo desmoronado pela investidas do Senhor, passou a reconstruir externamente a pequena capela de São Damião, mas seu sonho mesmo era preparar em seu coração a grande morada do Senhor. E ele conseguiu!
Quem conhece um pouco de sua história sabe o tamanho da contribuição que este homem de Deus ofereceu à Igreja e à humanidade… Hoje, mais de 800 anos depois de sua morte, Francisco é unanimidade. Tem trânsito livre nas diferentes culturas, religiões, sociedades. É o homem da paz, do diálogo, do cuidado com a vida e com o meio ambiente… Tudo isso porque não teve medo de escancarar as portas de sua existência para o Senhor!
É Frei Leonardo e Frei João, temos uma bela herança! Mas precisamos também fazer o caminho, pois o Pai Francisco nos chama a atenção: “É pois uma grande vergonha para nós, outros servos de Deus, terem o santos praticado tais obras, e nós queremos receber honra e glória somente por pregar o que eles fizeram”, diz o Seráfico Pai em um de seus escritos.
Temos muito trabalho pela frente, mas graças a Deus não estamos sozinhos. Temos o povo, os confrades, a comunidade e, principalmente, Jesus Cristo. Quando porventura sairmos do trilho, ele não se furtará em novamente tomar o chicote para nos colocar no eixo de novo, rompendo nossas amarras e abrindo nossos corações para a ação da graça de Deus.
Por tudo isso, Frei Leonardo e Frei João, termino esta singela reflexão de modo diferente ao que comecei. Se a iniciei brigando com vocês, não encontro jeito de concluí-la da mesma forma. Reconhecendo todo bem que a lição do Crucificado nos apresenta, só posso agradecer a vocês! Muito obrigado por nos proporcionar este contato mais íntimo com o Cristo da Cruz, aquele que veio ao nosso encontro, que nos abriu o caminho, que nos mostrou o sentido de nossas vidas. Louvado seja o Senhor pelo dom da vocação de vocês!
Fonte : Franciscanos
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