"O povo que andava na escuridão viu uma grande luz"
Antes do dia de Natal, rezamos de noite. Quando a claridade do dia passou e chega a escuridão da noite, rezamos. É a missa da noite de Natal. E nesta noite, envoltos pela escuridão, percebemos que tal noite é mais clara que o dia. Vemos uma grande luz, maior e mais brilhante que todas: "Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo-Senhor". Deixemos esta luz brilhar e iluminar nossa escuridão.
No entanto, o Natal nos ensina que Deus sai de si mesmo, da sua claridade sem fim, justamente para acolher nossa escuridão. Bendita escuridão, benditas trevas! Hoje deveríamos até mesmo erguer um hino de gratidão às trevas de nossa humanidade. Elas comovem o coração de nosso Deus, o Emmanuel, que vem caminhar conosco, partilhando nossas trevas, nossas escuridões. Quantas são estas trevas: o pecado, o egoísmo, o fechamento, as injustiças tantas, a fome, as doenças, as divisões dentro e fora, as guerras, o mal, a morte. De fato, somos um povo que caminha em meio a trevas. E, no entanto, vemos uma grande luz: Deus se encarna, vem partilhar das nossas trevas. E nos diz: é bom sermos humanos!
Sim! É bom sermos de carne. Porque desejaríamos outra realidade se o próprio Deus se encarna em nossa história cheia de escuridão? O Natal precisa ser para cada um de nós esta afirmação plena da vida, de nossa vida, de nossa história. É bom estarmos aqui neste tempo da história. Somente com esta afirmação da vida, somente com este sim absoluto à nossa história, somente lutando contra uma maneira negativa de olharmos as realidades deste mundo, lutaremos também, sem conformismos baratos, contra toda forma de escuridão. Somente assim iluminados conseguiremos lutar contra a grande escuridão que nos cerca, talvez a maior de todas, que é a indiferença. Quantas pessoas, fiéis e infiéis, frades, padres, católicos e não-católicos, acomodadas, indiferentes, para as quais a vida é vivida como "tanto faz ou tanto fez". Se Deus não se importasse, se Deus fosse indiferente conosco Ele não teria se encarnado, não teria nascido para nós. Não deixemos o mal da indiferença nos dominar! Como diz uma música do Pe. Zezinho: "Não deixes que eu me canse, meu Senhor, ao ver o que este mundo se tornou".
"Vemos uma grande luz"! É fato. A criança pobre da periferia de Belém torna tudo mais leve, descomplicado, saudável. Ela se faz notar por cada um que tem o coração humilde e cuidadoso como pastores que, vigilantes na noite escura, cuidam do rebanho. Em cada gesto de cuidado do ser humano é Natal; em cada coração aberto ao próximo é Natal; em cada vida que se faz doação é Natal. Ontem em Belém, hoje aqui e amanhã em cada canto do mundo, Deus vem ao nosso encontro, apesar e mesmo em nossas escuridões. Por isso, não há motivo para termos medo. No lugar do medo, a alegria anunciada pelos anjos, estes mensageiros do sagrado, ontem, hoje e sempre. Alegria vivida por São Francisco de Assis, alegria franciscana.
Amados irmãos e irmãs, deixemos ressoar em nossas vidas, quais sinos humanos, de carne e osso, a alegria do Natal: alegria verdadeira que nos enche de paz. Porque para nós – sim, para nós pecadores, frágeis e tantas vezes cercados de trevas! – foi-nos dado um menino, a criança que tudo renova hoje e sempre. "O povo que andava na escuridão viu uma grande luz".
Abençoado Natal para você e sua família.Obrigado pelos presentes doados aos frades. Perdão por nossas faltas. E um 2015 sempre na presença do Senhor.
Fr. Adriano Freixo Pinto, ofm
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