MORADORES DE RUA INFERNIZAM O BRÁS
Quem passa pelas imediações do viaduto Bresser, percebe a presença de barracas de moradores de rua, que acabam atraindo todo tipo de pessoas para o local, gerando conflito social, principalmente no teor “ir e vir”. Os moradores dos condomínios da região estão com medo de sair, porque constantemente sofrem assaltos.
Essa questão foi debatida na última reunião do Conseg Brás/Mooca e Belenzinho, dia 4 de fevereiro último, no auditório da Universidade Anhembi Morumbi.
“A nossa região é histórica e tradicional. Caso não retirem os moradores de rua, eu mesma vou agir”, disse a presidente do Conseg, Wanda Herrero. “Se o viaduto Bresser pegar fogo, vai tudo para os ares com o posto de gasolina. Não pode haver negligência”, completou ela.
Presente pela primeira vez na reunião, o novo subprefeito da Mooca, Francisco Carlos Ricardo, salientou que fazer abordagens com os moradores de rua não resolverá o problema. “A Secretaria de Assistência Social está cadastrando essa população”, disse ele, que lembrou das quadras de esportes situadas embaixo do viaduto Alcântara Machado, antigamente ocupado por favelas e carros abandonados.
Segundo Francisco, foi montada na Sub Mooca uma comissão para os moradores de rua. “Esse pessoal está na rua por diversas causas. Vamos achar uma solução em conjunto”.
O subprefeito Francisco disse que houve migração dos dependentes químicos do Centro para o Brás e a Mooca. “O problema é muito grave e complexo. Uma atitude impensada piora a situação. Estamos tratando com seres humanos”.
Ocupação com atividades culturais
Também presente no Conseg, a presidente executiva do Museu da Imigração, Marília Bonas Conte, contou que enviou ofício ao governador Geraldo Alckmin sobre o problema dos moradores de rua na frente do Museu da Imigração. E informou que existe um projeto em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi, a CPTM e o Arsenal da Esperança que pode ter impacto na urbanização e melhorias de calçadas. Antes disso, o museu tem a intenção de ocupar o espaço nas ruas Dr Almeida Lima, Visconde de Parnaíba e adjacências, com programações culturais, evitando a concentração de desocupados no entorno. “Precisamos cuidar mais da nossa rua, assim dispersamos os dependentes químicos”, ressaltou ela.
A par do problema, o capitão Gravena, comandante da 3ª Cia do 45º BPM/M, disse: “Se a Lei permitisse, faríamos a remoção dos moradores de rua”.
Interpretação errada da Lei
O morador Gilberto perguntou ao Dr Tadeu Rossi, delegado titular do 8º DP: “Estão interpretando erroneamente a lei do ir e vir. Todo mundo tem esse direito, está na Constituição. Quem dá a eles o direito de ficar? Pois eles não estão indo e nem vindo, estão ocupando o espaço público, morando. E isso tem que acabar. É vadiagem. Eles têm que ser retirados dali. E por que os bares não fecham após as onze horas da noite?”.
Em seguida, o Dr Tadeu respondeu que o 8º DP está trabalhando arduamente, coibindo o tráfico de entorpecentes, por meio de flagrantes. E lembrou que a Lei de Contravenção Penal, simplesmente parou de ser aplicada por causa da Lei 9.099. “Precisa mudar a legislação, por meio do Legislativo”.
Fiscalização de casas noturnas e trilhos
Devido à tragédia de Santa Maria-RS, onde faleceram 239 jovens dentro de uma boate, o assunto fiscalização de bares e casas noturnas voltou a ser pauta da Prefeitura. O sub Mooca Francisco Ricardo informou que duas casas da região (uma na av. Celso Garcia e outra perto da rua Cassandoca, onde está o 3º GB) serão inspecionadas. “Todas as casas noturnas que estiverem irregulares serão fechadas”.
Os moradores também vieram à reunião do Conseg para pedirem a retirada dos trilhos da rua Visconde de Parnaíba, onde passava o bonde do antigo Memorial do Imigrante.
Marília Bonas afirmou que o Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico negou a retirada dos trilhos da rua Visconde de Parnaíba.
A próxima reunião será no dia 4 de março, às 20h, no SENAI Theobaldo de Nigris , na rua Bresser, 2.315. Participe. Convide os amigos e ajude a resolver os problemas do seu bairro.
Wanda Herrero é presidente do Conseg, ao lado do capitão Gravena e Sub Mooca Francisco Ricardo
Dr Tadeu Rossi, delegado titular do 8º DP
Capitão Gravena, cmt PM da região
O auditório da Universidade Anhembi/Morumbi ficou lotado
Subprefeito Mooca Francisco Ricardo
Inspetor Hamilton da GCM
Marília Bonas do Museu da Imigração
Dona Zina da AmoAMooca disse que a educação é tudo. “Sem educação, e sem criarmos bem os nossos filhos, não vamos ter um médico ou um ótimo subprefeito, como Francisco, que eu aprendi a admirar”
Fundador do Conseg há 23 anos
Fundador do Conseg Brás/Mooca (hoje Brás/Mooca e Belenzinho), em abril de 1990, Milton George exaltou a participação maciça da comunidade na reunião.
Ele lembrou que, uma das primeiras ações do Conseg, logo após sua fundação, foi a retirada das favelas no viaduto Piratininga e Metrô Brás, quando era presidente do Conseg o dinâmico líder Orlando Manoel.
“O morador de rua é fruto da miséria humana. São pessoas carentes que vêm de outros Estados, em busca de uma vida melhor. Chegam aqui e encontram uma miragem falsa”.
E disse ainda: “Que as autoridades, junto com a comunidade, que é a força do Conseg, façam o possível e o impossível para solucionar imediatamente esse problema”.
Milton pede para que haja mudança na Lei, e esta seja mais rigorosa, para que se separe o “joio do trigo”, lembrando: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Selma Maria da Silva, ex-moradora de rua, hoje catadora de materiais recicláveis, veio ao Conseg dizer que é muito difícil tratar com os dependentes químicos, mas que a sociedade pode se mobilizar. “O morador de rua não quer ir ao albergue ou tenda. Estamos cadastrando os moradores de rua para trabalhar em cooperativa de catadores. O lixo é gerador de renda, emprego e dignidade”, disse ela
Antonia, ex-professora da Escola Fábio Prado da Mooca, contou que os moradores dos condomínios Bresser I, II e III, Solar dos Girassóis e Solar dos Imigrantes estão bastante inseguros. “Os jovens não conseguem ir para as faculdades porque têm os celulares roubados. Nós estamos presos dentro dos condomínios. Estamos aqui pedindo segurança”
Morador e síndico do condomínio Nova Mooca, que tem aproximadamente 1.000 moradores, disse que entre os problemas, está um banheiro público na rua usado pelos desocupados e os bares que não respeitam as regras do município, utilizando som alto ligado até as três da madrugada, de quarta a sexta-feira. “Temos mais de 80 protocolos e nada foi feito”. Existem cerca de 50 barracos ao redor do viaduto Bresser, segundo ele
Vanda, moradora da Mooca, disse que infelizmente, não vai usar a palavra gratidão enquanto não for resolvido o problema. “Não vamos fazer nada? Vai continuar assim? Por que temos que tolerar? Há quatro meses estou falando e levando ofícios para ver se resolve alguma coisa”
João Evangelista, morador da rua Visconde de Parnaíba, quer melhorias na calçada da Visconde de Parnaíba. Outra queixa é que o mato está alto e existe um terreno abandonado no local, atraindo desocupados. “Esse trecho da rua virou novamente ponto viciado de entulho, mesmo com a existência de uma placa da Prefeitura”. João também quer a retirada dos trilhos na rua Visconde de Parnaíba e a instalação de uma lâmpada na esquina da Visconde de Parnaíba com a Almirante Brasil
Caroline, moradora do condomínio Bresser II, disse que criou o Grupo Viva Bresser. “Nosso objetivo é ir vai para a rua conscientizar os moradores da região e assumir nossa responsabilidade social. Acreditamos na falta de informação das pessoas para melhorar o bairro”, disse Caroline
Fátima, moradora há 21 anos na região, disse que depois que a tenda foi construída, a visão dos motoristas ficou comprometida. Ela reclama também do barulho da CPTM à noite. “Não consigo dormir. Estou fazendo tratamento com naturologia, por conta do stress”
Rodrigo, morador da região, disse que houve uma inversão de valores. “O excluído social pode tudo. Eu saio às 5 horas para trabalhar e pego seis ônibus. Cadê meu direito de viver? Porque a GCM não recolhe esses usuários de drogas? A região está virando uma segunda Cracolândia”
Débora, missionária e representante de casas de recuperações, disse que o poder público está limitado e o direito de ir e vir é muito delicado. “Se tirar um morador de rua daqui, vai para outro bairro. A abstinência da droga é terrível. Muitos usuários já estão loucos, não tem consciência de nada. A sociedade precisa se organizar. Não adianta só a polícia”
Antonio Carlos, morador da Mooca há 60 anos, quer mais atenção da Prefeitura e da PM nas reclamações feitas no Conseg. “Temos pessoas idosas e doentes que são obrigadas a ouvir o dia todo som alto nos carros que param na porta dos bares da rua do Hipódromo com a rua Itajaí”. Ele quer também mais fiscalização nos bares que colocam cadeiras e mesas nas calçadas, deixando os moradores andarem na rua
Jair, síndico do condomínio Bresser V, disse que viu várias cabanas na porta de seu condomínio, e os moradores de rua fazem o diabo – fogueiras, defecam etc. “Estou cansado de vir aqui. Não aguento mais”
Manoel disse que já aconteceram mortes embaixo do viaduto Bresser envolvendo os moradores de rua. “Nenhuma autoridade toma providência. É uma situação de calamidade pública. A Prefeitura também deve fazer a limpeza das ruas, onde ficam os desocupados, porque milhares de pessoas presenciam esses mendigos fazendo necessidades e sujando a rua”
Romilda é da Agenda 21 e pertence ao Conselho Municipal do Meio Ambiente. Ela lembrou que a região concentra um grande número de prédios abandonados, que, reformados pela Prefeitura, poderiam virar habitação popular. “O espiritual influi muito também para os moradores de rua não deixarem o local”, acrescentou
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