História no. 151
Jayme Antonio Ramos
João Romildo era um homem trabalhador , sério e cumpridor de seus deveres.
Trabalhava numa repartição pública e à tarde quando de lá saía , fazia uns bicos
para melhorar o seu orçamento.
Mudou do Pari onde pagava aluguel e mudou-se para os fundões da Zona Leste,
o bairro chama-se Quarta Divisão , tem esse nome porque é divisa com , se não
me engano , Mauá ou seria Ribeirão Pires, sei lá , isso pouco importa.
Mudou-se para um conjunto de prédios populares, mas era seu e o dinheiro que ele gastava não era mais com aluguel e sim com prestações.
Muito sacrifício, mas sem isso não se faz nada é o que ele dizia à sua esposa insatisfeita em sair do Pari, onde morava desde criancinha.
Ah ! sua esposa era a Lindaura Sandra e tinham um filho pré -adolescente o
Junior, Romildo Junior mais precisamente.
Saía de casa às 4.30 hs. da manhã , tomava um café rapidinho que ele mesmo fazia e saía voando pois a van tinha horário certo e se ele perdesse aquela, as
próximas viriam lotadas e assim chegava em Guaianazes, onde tomava o trem,
superlotado e ia até ao Brás , andava mais 20 minutos a pé e pronto chegava ao local de trabalho.
À noite quando saía do trabalho lá pelas 9.30 hs. o percurso inverso e nas mesmas condições, ou pior, a van também ia lotada.
Chegava em casa lá pelas 11.30 hs da noite, lavava o banheiro e a cozinha, esquentava a janta depois do banho , ia dormir e no dia seguinte era a mesma coisa. Só de ver voces já cansaram? esperem , mas, vocês dirão, lavar cozinha e o banheiro, por que ?
Sim , a mulher não trabalhava fora, mas se queixava de dores nos quadris , além das enxaquecas constantes , que segundo ela , a privavam de várias atividades relacionadas com a vida conjugal .
Mas , ultimamente as queixas de Lindaura, não se resumiam à distância da casa, nem às suas dores.
Uma vizinha fofoqueira, sempre ela, mas qual ela ?Lindaura não queria citar o nome , dizia que o Romildo vinha do ponto da van até o bloco com duas sirigaitas, isso , esse mesmo foi o termo, sirigaitas, a Lúcia Regina e a Samantha Linda.
Quando Romildo, após todas as suas ( ufa ) cansativas tarefas , ia deitar começava a bronca, de manhã continuava, seu safado , mulherengo, vou contar para o marido dela , era um verdadeiro inferno.
Ele se queixava e os amigos diziam , larga dela , as colegas de trabalho falavam, ora por ela, tenta conversar com ela e ele com a cabeça cada vez mais quente.
Aos domingos, ele fazia bicos em firmas , excelente eletricista e encanador que era , mas os bicos também eram no Pari.
Num domingo desses de sol forte e calor intenso , ele estava trabalhando e no vizinho havia um aniversário , com o tradicional churras.
Romildo foi convidado e como ele comia pouco, não bebia, declinou, mas ante a insistência e para não fazer desfeita aceitou , mas disse que tinha que ir para casa logo.
Aceitou uma latinha , não quis comer nada, veio a hora do brinde ao aniversariante e todo mundo com um copo de vodka nas mãos e ele acompanhando. Não deu outra, capotou na hora, coma alcoólica, o SAMU olevou direto ao Pronto Socorro. Lá ficou desacordado das 13 hs. até as 20 hs e a primeira imagem que ele teve ao acordar era a sua esposa, brava , fuzilando de ódio.
Além de safado, traidor , agora virou alcoólatra ?
E foi do PS Santana até a sua casa ouvindo aquela ralhação atormentadora.
E a vida continuou, nesse dia veio na cabeça até de ele se atirar nos trilhos do Metrô, tal o seu desespero, mas pensou no filho que ele tanto adorava e não fiz isso.
E assim esses dias iam se passando.
Mas, um dia, sempre tem esse dia, como dizia o velho seu André, do qual eu já falei várias vezes, Romildo não estava se sentindo nada bem, foi medicado mas os medicamentos não surtiram efeito.
O chefe da Seção o dispensou e também ligou para o patrão do bico da tardinha que ele não estava nada bem.
O chefe escalou um colega de trabalho para que o levasse para casa. Depois das despedidas de praxe, Romildo subiu para o seu apartamento e estranhou não haver ninguém em casa, claro o filho estava na escola, mas a mulher não, deve ter ido fazer algumas compras.
Romildo deitou um pouco , o mal estar passou e ele foi até a janela, aí , eta mundo..
Quando olhava a janela , ele viu descer de um carro ao longe, fora do condomínio, a sua esposa , o carro continuou, entrou no estacionamento dos prédios , estacionou e o homem que desceu do carro e entrou em outro bloco , adivinhem quem era? isso mesmo era o marido da Samantha Linda.
Saiu antes que a mulher chegasse em casa , ficou perambulando e no dia seguinte deu a mesma incerta e não deu outra , mesma hora , mesmo carro e o mesmo homem.
Quer dizer , toda aquela pressão era para desviar o foco e Lindaura usando uma roupa que ele nem conhecia, vestidinho apertado, decote ousado , ou seja vestida para matar.
Romildo que já havia arrumado a sua roupa, documentos, cds em duas mochilas , só a esperou chegar para se despedir e sair de casa , decepcionado, amargurado, não sem antes falar para agora a sua ex-esposa que agora não dava mais para segurar e que ela fizesse muito bom proveito de tudo .A esposa atônita tentou explicar , que o amava, etc.etc, tudo em vão e el voltou lá para a pensão de dona Carlota ,onde morava quando solteiro , a qual ele considerava sua segunda mãe.
Chegou lá com os olhos marejados e segurando para não desabar, a velha e boa senhora sentou e falou, meu filho, chora , chora mesmo e recostou a cabeça dele no seu colo e falava, desculpe eu sabia que um dia você iria voltar, aquilo não é mulher para você, meu filho.
Y asi pasan los dias, como diz o bolerão, seu filho sempre o visita , os dois conversam bastante e lá está o nosso amigo , pensativo , morando no nosso Pari à sombra protetora de nossas duas torres gêmeas da Igreja Matriz.
A ex-esposa soltou a franga de vez, arrumou um emprego, no qual o patrão é um homem generoso e a fila anda...
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