Segue um texto extraído de um blog que circula pelo facebook :
Hoje, há cerca de 800.000 ciganos no Brasil, onde foi instituído, em 2006, o Dia Nacional do Cigano, que é comemorado todos os anos, dia 24 de maio, oficialmente, desde 2007. Esta data foi escolhida por ser o Dia de Santa Sara Kali, padroeira dos ciganos.
Segundo uma versão da história da santa, Sara teria guiado José de Arimateia, juntamente com Maria de Nazaré, sua irmã Maria Jacobina e Maria Salomé (mãe de João e Tiago), durante a perseguição romana aos cristãos. De acordo com uma outra versão, vendo as "três Marias" chegarem em um barco que ameaçava afundar, ela teria lançado seu lenço sobre as ondas e caminhado sobre as águas, para guiá-las no desembarque.
Eu, como trisaneta de uma cigana calé nascida em Andaluzia, ofereço minha homenagem a essa cultura que deixa sua marca nas estradas por onde passa.
"Gelem Gelem"
Gelem, gelem lungone dromensar
maladilem baxtale Rromençar
A Rromalen kotar tumen aven
E chaxrençar bokhale chavençar
A Rromalen, A chavalen
Sàsa vi man bari familja
Mudardás la i Kali Lègia
Saren chindás vi Rromen vi Rromen
Maskar lenoe vi tikne chavorren
A Rromalen, A chavalen
Putar Dvla te kale udara
Te saj dikhav kaj si me manusa
Palem ka gav lungone dromençar
Ta ka phirav baxtale Rromençar
A Rromalen, A chavalen
Opre Rroma isi vaxt akana
Ajde mançar sa lumáqe Rroma
O kalo muj ta e kale jakha
Kamàva len sar e kale drakha
A Rromalen, A chavalen
Optchá! Uma homenagem ao povo cigano
O povo cigano originou-se, provavelmente, na Índia ou no Egito, espalhando-se pela Europa e então, pelo mundo. Nômade, reuniu elementos de várias culturas e, assim, criou sua identidade e sua própria língua, o romani.
Na Península Ibérica, há uma língua derivada de diferentes dialetos chamada caló ou chipicalli,que também é usada pelos ciganos.
O caló "emprestou" muitas palavras ao idioma castelhano, como:
"andoba": pessoa sem importância, "um tal de"; "chachi": muito bom, extraordinário, verdadeiro (do caló: "chachipén"); "chalao" ou "chalado": louco (do caló: "chala"); "chaval": menino (do caló: "chavó"); "molar": gostar muito de algo, a valer (do caló: "molel"); "pureta": velho (do caló: "puró"), etc.
Na Península Ibérica, há uma língua derivada de diferentes dialetos chamada caló ou chipicalli,que também é usada pelos ciganos.
O caló "emprestou" muitas palavras ao idioma castelhano, como:
"andoba": pessoa sem importância, "um tal de"; "chachi": muito bom, extraordinário, verdadeiro (do caló: "chachipén"); "chalao" ou "chalado": louco (do caló: "chala"); "chaval": menino (do caló: "chavó"); "molar": gostar muito de algo, a valer (do caló: "molel"); "pureta": velho (do caló: "puró"), etc.
Os ciganos se dividem em três grandes grupos, que compreendem várias famílias:
- Calé, presente na Península Ibérica - principalmente Espanha e Portugal -, sul da França e norte da África.
- Rom, que inclui os Kalderash (Balcãs: Sérvia, Turquia, Romênia, Eslovênia, etc.) e os Romanichal (Reino Unido e América do Norte).
- Sinti, presente na Alemanha e na região da Alsácia.
- Rom, que inclui os Kalderash (Balcãs: Sérvia, Turquia, Romênia, Eslovênia, etc.) e os Romanichal (Reino Unido e América do Norte).
- Sinti, presente na Alemanha e na região da Alsácia.
Hoje, existem milhões de ciganos espalhados pelo mundo.
Brasil, Espanha, Romênia, França e Sérvia são alguns dos países onde eles existem em maior número.
Brasil, Espanha, Romênia, França e Sérvia são alguns dos países onde eles existem em maior número.
A história dos ciganos na Espanha data de cerca de 600 anos.
Nesse país, existem entre 600.000 e 650.000 gitanos, em uma população de cerca de 40 milhões de habitantes. A maior concentração se encontra na região de Andaluzia, no sul da Espanha, onde há cerca de 350.000 ciganos.
No Brasil, os primeiros ciganos chegaram depois de serem expulsos de Portugal, no século XVI. Foram degredados, principalmente, para a Bahia, o Maranhão e o Rio de Janeiro, entre outras capitanias.
No século XIX, quando D. João VI viajou ao Rio de Janeiro, artistas de teatro o acompanharam, para distrai-lo. Eram todos ciganos.
Mais tarde, durante a Primeira Guerra Mundial, um grande número de ciganos do Leste Europeu imigrou para o Brasil, dedicando-se ao comércio, ao artesanato e às artes circenses.
Na Segunda Guerra Mundial, assim como os judeus, eram considerados uma raça inferior e também sofreram perseguição nazista. Muitas crianças ciganas eram usadas como cobaias em experiências médicas, em Auschwitz. Nesse período, também houve grande imigração.
Na Segunda Guerra Mundial, assim como os judeus, eram considerados uma raça inferior e também sofreram perseguição nazista. Muitas crianças ciganas eram usadas como cobaias em experiências médicas, em Auschwitz. Nesse período, também houve grande imigração.
Hoje, há cerca de 800.000 ciganos no Brasil, onde foi instituído, em 2006, o Dia Nacional do Cigano, que é comemorado todos os anos, dia 24 de maio, oficialmente, desde 2007. Esta data foi escolhida por ser o Dia de Santa Sara Kali, padroeira dos ciganos.
Segundo uma versão da história da santa, Sara teria guiado José de Arimateia, juntamente com Maria de Nazaré, sua irmã Maria Jacobina e Maria Salomé (mãe de João e Tiago), durante a perseguição romana aos cristãos. De acordo com uma outra versão, vendo as "três Marias" chegarem em um barco que ameaçava afundar, ela teria lançado seu lenço sobre as ondas e caminhado sobre as águas, para guiá-las no desembarque.
Essas histórias e tradições sempre foram passadas oralmente, pois os ciganos costumam ser analfabetos. Ainda hoje, há muitos com baixa escolaridade.
No entanto, existem muitos ciganos com Ensino Superior e Pós-Graduação completos.
No entanto, existem muitos ciganos com Ensino Superior e Pós-Graduação completos.
Há, inclusive, programas de inclusão social, sobretudo, na Europa, como a EURoma - European Network on Social Inclusion and Roma under the Structural Funds -, que aplica políticas destinadas a melhorar a coesão social na União Europeia, garantindo o acesso aos fundos estruturais e, portanto, ao trabalho, aos estudos e a uma real participação na sociedade.
A imagem do cigano sempre inspirou discriminação, misticismo e fantasias diversas.
Apesar de serem, muitas vezes, associados a religiões afro-brasileiras, é importante que se saiba que, como povo em que prevalece a pluralidade étnica e cultural, os ciganos têm diferentes religiões e crenças. Sendo assim, não podem ser vistos de maneira estigmatizada. Existem ciganos umbandistas, católicos, evangélicos e seguidores de muitas outras crenças.
Sua máxima é "A terra é minha Pátria, o céu é o meu teto e a liberdade é a minha religião".
Isto me faz lembrar um trecho do segundo ato da ópera "Carmen", de Bizet:
"Pour pays l'univers, pour loi ta volonté,
Et surtout, la chose enivrante:
La liberté! La liberté!"
Por país, o universo, por lei, tua vontade,
E sobretudo, a coisa inebriante:
A liberdade! A liberdade!
A liberdade, para os ciganos, é o bem mais precioso que se pode conquistar.
Restringi-los a uma única religião ou traço cultural é desrespeitar esse tesouro.
Apesar de serem, muitas vezes, associados a religiões afro-brasileiras, é importante que se saiba que, como povo em que prevalece a pluralidade étnica e cultural, os ciganos têm diferentes religiões e crenças. Sendo assim, não podem ser vistos de maneira estigmatizada. Existem ciganos umbandistas, católicos, evangélicos e seguidores de muitas outras crenças.
Sua máxima é "A terra é minha Pátria, o céu é o meu teto e a liberdade é a minha religião".
Isto me faz lembrar um trecho do segundo ato da ópera "Carmen", de Bizet:
"Pour pays l'univers, pour loi ta volonté,
Et surtout, la chose enivrante:
La liberté! La liberté!"
Por país, o universo, por lei, tua vontade,
E sobretudo, a coisa inebriante:
A liberdade! A liberdade!
A liberdade, para os ciganos, é o bem mais precioso que se pode conquistar.
Restringi-los a uma única religião ou traço cultural é desrespeitar esse tesouro.
O que não podemos esquecer é que se trata de um povo que, como todos os outros, merece respeito.
Eu, como trisaneta de uma cigana calé nascida em Andaluzia, ofereço minha homenagem a essa cultura que deixa sua marca nas estradas por onde passa.
Quase nada sei sobre esta minha trisavó. Apenas sei que se chamava María e que faleceu em La Carolina (Província de Jaén, Andaluzia), quando minha bisavó tinha apenas nove anos.
Mesmo assim, dedico esta postagem especialmente a ela. Sei que, mesmo sem tê-la conhecido e tendo ouvido tão pouco sobre minha trisavó, ela me conhece e está ao meu lado, quando danço em honra de seu povo. Ela está presente também em cada parte de meu ser, pois seu sangue corre em minhas veias.
E vejam que brincadeira do destino: por pouco, não me chamo Sara!
No momento de meu nascimento, foi decidido que eu seria Carmem.
Carmem, como minha avó materna (neta de María) e como uma tia-avó paterna.
Carmem, como a cigana de Prosper Mérimée e de Georges Bizet.
Carmem: um poema cigano. E sou também Carolina, como a cidade onde ela faleceu.
E se trago um "m" intruso em meu nome, talvez, não seja por um mero erro de registro...
Se Carmen deu lugar a Carmem, esta pode ter sido uma homenagem do destino ao "M" de Maria: o nome de minha trisavó e das "três Marias" guiadas por Santa Sara.
Mesmo assim, dedico esta postagem especialmente a ela. Sei que, mesmo sem tê-la conhecido e tendo ouvido tão pouco sobre minha trisavó, ela me conhece e está ao meu lado, quando danço em honra de seu povo. Ela está presente também em cada parte de meu ser, pois seu sangue corre em minhas veias.
E vejam que brincadeira do destino: por pouco, não me chamo Sara!
No momento de meu nascimento, foi decidido que eu seria Carmem.
Carmem, como minha avó materna (neta de María) e como uma tia-avó paterna.
Carmem, como a cigana de Prosper Mérimée e de Georges Bizet.
Carmem: um poema cigano. E sou também Carolina, como a cidade onde ela faleceu.
E se trago um "m" intruso em meu nome, talvez, não seja por um mero erro de registro...
Se Carmen deu lugar a Carmem, esta pode ter sido uma homenagem do destino ao "M" de Maria: o nome de minha trisavó e das "três Marias" guiadas por Santa Sara.
Optchá!
Carmem Toledo
Segue o hino cigano, "Gelem Gelem", traduzido para o espanhol pela Unión Romani e em seguida, para o português, por mim.
Vídeo: Canal de dizdirasamira, Youtube
"Gelem Gelem"
Compositor: Jarko Jovanovic
Intérprete (neste vídeo): Rromano Dives
Intérprete (neste vídeo): Rromano Dives
Letra:
Gelem, gelem lungone dromensar
maladilem baxtale Rromençar
A Rromalen kotar tumen aven
E chaxrençar bokhale chavençar
A Rromalen, A chavalen
Sàsa vi man bari familja
Mudardás la i Kali Lègia
Saren chindás vi Rromen vi Rromen
Maskar lenoe vi tikne chavorren
A Rromalen, A chavalen
Putar Dvla te kale udara
Te saj dikhav kaj si me manusa
Palem ka gav lungone dromençar
Ta ka phirav baxtale Rromençar
A Rromalen, A chavalen
Opre Rroma isi vaxt akana
Ajde mançar sa lumáqe Rroma
O kalo muj ta e kale jakha
Kamàva len sar e kale drakha
A Rromalen, A chavalen
Tradução para o espanhol (por http://www.unionromani.org):
Anduve, anduve por largos caminos
Encontré afortunados romà
Ay romà ¿de dónde venís
con las tiendas y los niños hambrientos?
¡Ay romà, ay muchachos!
También yo tenía una gran familia
fue asesinada por la Legión Negra
hombres y mujeres fueron descuartizados
entre ellos también niños pequeños
¡Ay romà, ay muchachos!
Abre, Dios, las negras puertas
que pueda ver dónde está mi gente.
Volveré a recorrer los caminios
y caminaré con afortunados calós
¡Ay romà, ay muchachos!
¡Arriba Gitanos! Ahora es el momento
Venid conmigo los romà del mundo
La cara morena y los ojos oscuros
me gustan tanto como las uvas negras
¡Ay romà, ay muchachos!
(Tradução para o espanhol por Unión Romani)
Tradução para o português (a partir do espanhol, por Carmem Toledo):
Caminhei, caminhei por longos caminhos
Encontrei afortunados ciganos
Ai, ciganos, de onde vindes
com as tendas e os meninos famintos?
Ai, ciganos, ai, jovens!
Também eu tinha uma grande família
Foi assassinada pela Legião Negra
Homens e mulheres foram esquartejados
Entre eles também meninos pequenos
Ai, ciganos, ai, jovens!
Abre, Deus, as portas negras
que eu possa ver onde está minha gente.
Voltarei a percorrer os caminhos
e caminharei com afortunados calós (ciganos)
Ai, ciganos, ai, jovens!
Levantem-se, ciganos! (ou "Vamos!") Agora é o momento
Vinde comigo os ciganos do mundo
O rosto moreno e os olhos escuros
Gosto deles tanto quanto das uvas negras
Ai, ciganos, ai, jovens!
(Tradução para o português: Carmem Toledo)
Fontes consultadas:
Além das fontes abaixo, incluo relatos familiares e recordações de infância, inclusive, no que diz respeito a palavras em caló (que eram ditas por minha bisavó Ana, filha da cigana María).
Agradeço à minha mãe Irene, à minha avó Carmem (também registrada com "m") e à minha bisavó Ana pela memória preservada e pela riqueza cultural transmitida.
1. BIZET, Georges. "Carmen".
2. Embaixada Cigana do Brasil (http://www.embaixadacigana.com.br)
Agradeço à minha mãe Irene, à minha avó Carmem (também registrada com "m") e à minha bisavó Ana pela memória preservada e pela riqueza cultural transmitida.
1. BIZET, Georges. "Carmen".
2. Embaixada Cigana do Brasil (http://www.embaixadacigana.com.br)
3. EURoma - European Network on Social Inclusion and Roma under the Structural Funds (http://www.euromanet.eu/)
4. Famílias Ciganas - Guia de cadastramento de grupos populacionais tradicionais e específicos, Ministério do Desenvolvimento, Governo Federal, 2012 (http://www.mds.gov.br/cgsgrupos_populacionais/textos/ciganas.pdf)
5. FAZITO, Dimitri. "A identidade cigana e o efeito de 'nomeação': deslocamento das representações numa teia de discursos mitológico-científicos e práticas sociais". Revista de Antropologia [online], Departamento de Antropologia - FFLCH - USP, 2006, vol.49, n.2, pp. 689-729 (http://www.scielo.br/pdf/ra/v49n2/07.pdf)
6. Fundación Secretariado Gitano (http://www.gitanos.org/)
4. Famílias Ciganas - Guia de cadastramento de grupos populacionais tradicionais e específicos, Ministério do Desenvolvimento, Governo Federal, 2012 (http://www.mds.gov.br/cgsgrupos_populacionais/textos/ciganas.pdf)
5. FAZITO, Dimitri. "A identidade cigana e o efeito de 'nomeação': deslocamento das representações numa teia de discursos mitológico-científicos e práticas sociais". Revista de Antropologia [online], Departamento de Antropologia - FFLCH - USP, 2006, vol.49, n.2, pp. 689-729 (http://www.scielo.br/pdf/ra/v49n2/07.pdf)
6. Fundación Secretariado Gitano (http://www.gitanos.org/)
7. GASPAR, Lúcia. "Ciganos no Brasil", Fundação Joaquim Nabuco, Recife (http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=914&Itemid=1)
8. Kumpanía Romai (http://www.kumpaniaromai.com.br)
9. "Lenguage Caló" - Programa de TV "Sacalalengua", TVE, Espanha, 2009 (http://www.rtve.es/alacarta/videos/television/sacalalengua/645407/?s1=programas)
10. MARSIGLIA, Luciano. "A saga cigana: a história e os segredos do povo mais misterioso do mundo", Revista Superinteressante, setembro/2008.
8. Kumpanía Romai (http://www.kumpaniaromai.com.br)
9. "Lenguage Caló" - Programa de TV "Sacalalengua", TVE, Espanha, 2009 (http://www.rtve.es/alacarta/videos/television/sacalalengua/645407/?s1=programas)
10. MARSIGLIA, Luciano. "A saga cigana: a história e os segredos do povo mais misterioso do mundo", Revista Superinteressante, setembro/2008.
11. Open Society Institute, "The situation of Roma in Spain", 2002 (http://web.archive.org/web/20071201172552/http://www.eumap.org/reports/2002/eu/international/sections/spain/2002_m_spain.pdf)
12. "Os ciganos em São Paulo: As linhas do futuro e a herança do passado" - Programa de rádio da série "O Povo Cigano no Brasil", Rádio Senado, 2005 (http://www.embaixadacigana.com.br/entrevistas/radio_senado/PGM%2005.mp3)
13. REBOLLEDO, J. Tineo. "A Chipicalli (La lengua gitana): Conceptos sobre ella en el mundo profano y en el mundo erudito - Diccionario Gitano-Español y Español-Gitano", Granada, Imprenta de F. Gómez de la Cruz, 1900 (http://www.archive.org/stream/achipicallilalen00tine#page/n7/mode/2up)
14. Unión Romani (http://www.unionromani.org/index_es.htm)
Carmem Toledo.
14. Unión Romani (http://www.unionromani.org/index_es.htm)
Carmem Toledo.
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