Um século depois de receber uma leva de imigrantes maior do que era a população nativa, a capital paulista abriga só 28% de moradores que não nasceram no Estado. Mas a distribuição dessas pessoas que escolheram viver na cidade está longe de ser homogênea. Varia de 49% de imigrantes na periférica Anhanguera a 14% na Vila Carrão - bairro mais paulista. E os dados apontam ainda que os bairros com mais imigrantes têm o dobro da renda.
Os números fazem parte de levantamento inédito feito pelo Ibope, a pedido do Estadão Dados, com base nos questionários do Censo 2010. Eles mostram que os imigrantes se concentram em duas grandes áreas espacialmente distantes, mas economicamente semelhantes: a extrema periferia e o centro histórico de São Paulo. Entre elas há um anel de distritos com maior presença de paulistas que coincide com as regiões mais ricas da cidade e os bairros de moradia da tradicional classe média paulistana.
Esse anel está pintado com as cores mais claras no mapa que ilustra esta página. Ele compreende 56 distritos cuja renda domiciliar média é de R$ 5 mil. Só 1 de cada 5 moradores veio de outros Estados ou países. A maioria dos moradores paulistas, porém, é descendente de ondas migratórias mais antigas - em uma cidade que teve o maior crescimento entre as metrópoles mundiais no século 20, poucos não são imigrantes ou seus descendentes.
Os outros 40 distritos, identificados pelas cores mais vivas no mapa, têm uma presença de migrantes bem acima da média da cidade: 35%. Não por coincidência, o rendimento médio em suas habitações é metade do resto da cidade: R$ 2,5 mil. A desigualdade de renda é reflexo de como se deu a ocupação dessas regiões nos últimos 50 anos.
A maioria dos imigrantes recentes foi morar em áreas nos extremos da cidade, que acabaram incorporadas à mancha urbana sem planejamento e com carências como transporte, escolas e assistência médica, como o Grajaú ou Anhanguera, onde quase 50% dos moradores são de fora do Estado. O restante dos imigrantes reocupou áreas do centro histórico - muitas vezes em habitações coletivas -, em distritos como o Pari, onde a porcentagem de imigrantes é similar.
Entre esses dois universos, estão bairros tipicamente locais, onde os moradores estão enraizados há décadas e há pouca migração recente, como Santana, Água Rasa e Carrão. Nesse último, as pessoas se conhecem pelo nome e é possível encontrar casas com portões abertos e gente conversando na calçada.
Dona Nena, de 95 anos, é uma delas. Nascida no distrito de Belém, Filomena Santiago Lima e o marido estão entre os primeiros moradores do bairro e criaram cinco filhos no Carrão. Ela diz que já cogitou mudar, mas desistiu no meio do caminho. "Pelo bairro, que é ótimo, eu fico."
Roberto Gimenez, de 67 anos, concorda. Ele nasceu no Brás e mora no Carrão desde criança. Das duas filhas, uma vive com eles e a outra se mudou, mas não saiu do distrito. "É um bairro que progrediu muito, mas todo mundo ainda se conhece."
Estrangeiros. Outra tendência registrada no Censo 2010 foi a chegada de dois tipos bem distintos de imigrantes estrangeiros. Um deles é o latino-americano que vem em busca de uma vida melhor e vai morar em bairros afastados do centro expandido, onde o aluguel é mais baixo.
Outro são os italianos, espanhóis e portugueses que, fugindo da crise na Europa, vêm com dinheiro para investir e abrir novos negócios no Brasil. Entre os dois, estão os chineses que vêm trabalhar no comércio do centro. O número total de estrangeiros em São Paulo, porém, é muito pequeno: apenas 1,3% da população da cidade nasceu fora do País. / COLABOROU MÔNICA REOLOM
Ontem dia 4 , o nosso blog recebeu visualizações também dos Estados Unidos
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