É sempre bom saber que ainda restam algumas reservas morais neste pais !!!!! Eu já tinha como certo que a máxima do fernadinho beira mar "de que tudo estivesse dominado" era uma certeza........mas ainda respiramos,não é?
O texto que enviei ao Emerson e com o qual também comungo integralmente é irmão siamês deste outro que aproveito par enviar-lhe também.Gostaria de te-los escrito,mas não são meus.O primeiro,a quem aliás deve-se dar os creditos é do Gustavo Ioschpe e este abaixo é do J.R.Guzzo.Veja que pérola
abração / tércio
Num tempo em que princípios e integridade são conceitos em extinção no
meio político, é hora de lembrar do legado do ex-primeiro-ministro
britânico Winston Churchil.
Foram apenas quatro palavras ditas em inglês, há mais de 70 anos, na
Câmara dos Comuns do Parlamento britânico; desde então, fazem parte da
linguagem mundial da decência do ser humano. São palavras que não vão
morrer nunca. Elas resumem, com perfeição, até aonde pode chegar a< br />coragem pessoal de um líder político, sua recusa em agir contra as
próprias convicções e uma determinação absoluta para jogar tudo, mas
tudo mesmo, na defesa de um valor moral. "We shall never surrender",
disse o primeiro-ministro Winston Churchill em 4 de junho de 1940,
menos de um mês depois de assumir o cargo —10 de maio, justamente o
dia em que a Alemanha de Adolf Hitler tinha invadido, e rapidamente
derrotado, a França, completando na prática a ocupaçã o militar da
Europa inteira. A Inglaterra, nesse momento, estava totalmente
isolada. Não tinha nenhum aliado; os Estados Unidos só entrariam na
guerra 18 meses depois. Seus recursos militares eram imensamente
inferiores aos da Alemanha. Os poucos países não ocupados da Europa,
como Espanha, Portugal ou Suécia, eram amigos íntimos dos nazistas. A
Inglaterra não tinha meios eficazes de se defender e muito menos de
atacar. Um "entendimento" com Hitler, "costu rado" por alguma grande
obra de "engenharia política", estava na mente e na boca dos
profissionais — isso que se chama no Brasil de "gente do ramo". Foi
essa a hora que Churchill escolheu para informar à Alemanha e ao
mundo: "Nós não vamos nos render nunca".
Não era um discurso. Não era um anúncio de obras do PAC nem do Brasil
Carinhoso. Não era palavrório demagógico, irado e grosseiro contra as
elites. Não era um truque de oratória nem uma frase escrita por seu
diretor de relações públicas. Não era uma ameaça. Era apenas o aviso
de um fato concreto: a Inglaterra, pura e simplesmente, não iria se
render. No caso, o que Churchill acabara de fazer era assumir um
compromisso, e o aval de que ele seria 100% cumprido estava nos
motivos reais que o levaram a assumi-lo — as noções de "valor" ou
"princípio". Quando uma e outra existem de verdade num pronunciamento
público, é bom levar a sério o que está sendo dito — os atos
prometidos ali vão realmente acontecer, pois são o resultado de uma
decisão que não vai mudar. Dava para suspeitar que Churchill, na hora
mais dramática de seu país, tinha optado sem a menor hesitação por
colocar valores acima de habilidades ou conveniências políticas. Três
dias depois de assumir seu cargo, logo no primeiro discurso que fez,
já começou com tudo: "Não tenho nada a oferecer senão sangue,
trabalho, là ¡grimas e suor" (trecho normalmente citado como "sangue,
suor e lágrimas"). Quem tem a coragem de começar um governo dizendo
uma coisa dessas? Não, com certeza, esses pigmeus que passam hoje por
"líderes" dotados de superior "faro político" ou outra bobagem
qualquer saída do mesmo angu. Os alemães não acreditaram no discurso
de Churchill. Cinco anos depois, seu país estava reduzido a ruínas. É
no que acabou dando essa história de tomar uma decisão motivada por
valores.
"Ora (direis), ouvir Churchill! E em pleno ano de 2013? Certo
perdeste o senso", poderia dizer Olavo Bilac se ainda estivesse vivo e
calhasse de ler este artigo. Mas, da mesma forma que em seu poema faz
todo o sentido ouvir estrelas, também é perfeitamente lógico pensar em
2013 o que Churchill falou em 1940. Desde que foram ditas nos Comuns,
suas palavras jamais deixaram de ser atuais, e continuarão assim para
sempre; fazem parte do patrimônio universal da humanidade, como as
pirâmides do Egito ou o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em
Congonhas do Campo. Há momentos, porém, que parecem pedir mais do que
em quaisquer outros a presença de valores na vida política. Quanto a
isso vivemos, hoje, o "nada absoluto" de que nos falam os metafísicos.
Qual seria, por exemplo, o grande princípio filosófico ou moral de
Barack Obama, presidente do maior país do mundo? Quem é capaz de citar
uma única convicção verdadeira de Angela Merkel, regularmente citada
como a mais firme "liderança" da Europa? Existiria algum remoto
vestígio da noção de valor nas ações do presidente Vladimir Putin? Não
vale, aí. ficar falando de planos de assistência médica ou apoio ao
casamento gay, de firmeza no combate à inflação ou valentia no rigor
fiscal. A questão é saber, nessa gente toda, quem estaria disposto a
arriscar a própria vida na defesa de uma convicção moral, na recusa em
aceitar o mal no lugar do bem ou na intransigência total em favor da
integridade e contra a safadeza. E isso, apenas — é o que Churchill
fez e o que qualquer pessoa pode fazer, na guerra ou na paz, se
colocar os valores da decência comum como mandamento número 1 de seus
atos.
Se o mundo em geral está assim, imagine onde fomos amarrar nosso
burro aqui no Brasil. Num artigo recente em sua coluna quinzenal na
revis ta VEJA, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo descreveu o
universo político brasileiro como um deserto sem fim, onde é
impossível a existência de qualquer forma de vida — ou, melhor
dizendo, qualquer forma de vida pública capaz de ter um mínimo de
utilidade para o país e para sua população. O ovo da serpente é que
não existe política no Brasil, mas, sim, um "conceito de política",
peculiar à nossa terra e à nossa gente; esse "conceito", escreve
Pompeu, nega a possibilidade de uma vida pública em que os embates
envolvam a diferença de ideias, programas ou modelos propostos para a
gerência da educação, dos transportes ou seja lá o que for. Tudo,
absolutamente tudo, é feito na exclusiva defesa de interesses
particulares. Valores? Princípios? Integridade? Separar o certo do
errado? Abolir os acordos indecentes para obter apoio? Tomar alguma
decisão, uma apenas, motivada pela obediência a um mandamento moral? O
"conceito de política" no Brasil não apenas ignora essas coisas mas
tem certeza de que todas elas são estupidez em estado puro. A
presidente da República pensa e age assim; e, abaixo dela, todos vão
exatamente pela mesma trilha. Há exceções, é claro — sempre há. Mas o
que comanda de fato a vida pública brasileira é o tráfico de emendas
parlamentares, a compra e venda de cargos no governo e em estatais, a
criação de ministérios absurdos para atrair o apoio dos que vão
recebê-los, o comércio de minutos de propaganda obrigatória na TV, a
submissão sem limites aos "índices de popularidade" e assim por
diante.
FÁBRICA DE MINISTÉRIOS
Como é possível, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff nomear para
o Ministério da Agricultura, em sua última "reforma ministerial", um
político ligado a um sinistro matadouro clandestino em Minas Gerais?
Justo para o Ministério da Ag ricultura? Não haveria nenhum outro
disponível para ele e seu partido? E não haveria, em 190 milhões de
brasileiros, nenhum cidadão um pouquinho mais adequado para ser o
ministro da Agricultura do Brasil? Se fosse um caso isolado, ainda
daria para engolir. Infelizmente, como mostra a experiência, não há
casos isolados nesse tipo de decisão — muito menos depois de dez anos
seguidos de aplicação do "conceito de política" hoje em vigor no país.
A presi dente criou, para contratar aliados, e só para isso, um
Ministério da Micro e Pequena Empresa. Será que estaria pensando em
criar, mais adiante, um Ministério da Média Empresa ou mesmo um
Ministério da Grande Empresa? Criou um Ministério da Aviação Civil. E
por que não um da Marinha Civil? Marinheiro também é filho de Deus —
e, de mais a mais, já existe um Ministério da Pesca, cujo ministro
confessa que não sabe colocar um anzol na linha. O interesse do país,
em todas essas decisões, é zero. Só importa quem vai ganhar o quê e
qual o potencial de aproveitamento material dos cargos criados. O
resultado, ao mesmo tempo, é aquele sugerido pela aritmética
elementar. Quanto mais ministério e mais cargos —, tanto mais vai
se roubar. Dilma sabe disso melhor do que ninguém. Já teve de colocar
no olho da rua, por exposição indecente em público, uma dúzia de
ministros e talvez centenas de delinqüentes que instalou na máquina
pública, inclusive seu braço direito, secretária executiva e sucessora
na Casa Civil, a inesquecível Erenice Guerra. E claro, portanto, que
sabe — só que não liga. Troca os que não dá para segurar por farinha
do mesmo saco, que só serve para assar um tipo de pão. A conseqüência
é o que está aí — um governo aberto ao primeiro batedor de carteira
que se apresentar como reforço para a "base aliada".
O buraco até que não seria tão fundo se o "conceito de política"
praticado pela presidente, pelo copresidente Lula e por seus fiéis
fosse o único problema. Mas não é. Onde acaba essa tropa toda começa o
resto do mundo político brasileiro — a oposição e os que, pelo menos,
não têm emprego doado pela gente que manda. De novo: alguém
conseguiria mencionar um, apenas um, pensamento legítimo do governador
Eduardo Campos, declarado pelos meios de comunicação como o "novo
fator" da vida pública nacional? E o senador Aécio Neves , então,
escalado para a posição de número 1 dos opositores — no que ele
realmente acredita ou no que se compromete de verdade, além de sua
briga com o colega de partido e ex-governador José Serra? E os que
foram tocados para fora do PT por se recusarem a roubar ou aceitar
cambalachos políticos — o que mais têm em comum? Não se sabe. A
impressão é que os participantes da vida política brasileira e
Churchill vieram de planetas diferentes. Mas é sà ³ impressão: vieram do
mesmo, e o que os separa de forma tão espetacular é algo que costumava
se chamar, em português comum, "vergonha na cara". Trata-se de uma
opção de vida. E adotada por pessoas capazes de sentir indignação
moral diante de atos repulsivos para a própria consciência. E
sacrificar as circunstâncias do momento, sempre, em favor de suas
convicções reais. E a intransigência contra qualquer ação que seus
valores não aceitem. E a recu sa em aprovar entendimentos, acordos ou
situações em que haja injustiça indiscutível. E, em suma, nunca ser
surdo para a voz da consciência nem cego para as conseqüências de seus
atos. Na política, enfim, significa a capacidade de ver que os
governos só fazem sentido se prestarem serviços aos governados,
colocarem-se sinceramente como servidores do público e agirem o tempo
todo para sustentar direitos legítimos e impedir a vitória da
injustiça.
CERTEZAS MORAIS
Não existe rigorosamente nada, aí, que só um homem como Churchill
pudesse fazer ou que só a sua época permitisse fazer — é uma postura
aberta a qualquer um, em qualquer tempo. Na verdade, Churchill não era
um tipo de político excepcional, privativo das zonas temperadas e
pertencente a uma espécie que não sobrevive nos trópicos. Só chegou ao
cargo de primeiro-ministro aos 66 anos de idade. Viveu, antes disso,
< span style="font-family: arial,sans-serif; font-size: 13px;">no entra e sai do governo, como dezenas de outros na Inglaterra de sua
época, e chegou a ser demitido de um posto ministerial sob a acusação
de incompetência. Tinha problemas sérios com o alcoolismo, uma vida
pessoal conturbada e um notável talento para construir inimizades. Seu
triunfo foi o conjunto de certezas sobre o que pensava e o que devia
fazer. Não se trata, por exemplo, de certezas como as do ex-presidente
Lula — que acredita ser um equivalente de Abraham Li ncoln por causa da
quantidade de críticas que recebe na imprensa — ou as da presidente
Dilma, para quem a queda de raios não tem nada a ver com as quedas de
energia elétrica. Trata-se de certezas morais. No caso de Churchill,
ele tinha certeza de que jamais, em caso algum, aceitaria que seu país
fosse ocupado por tropa estrangeira, que os ingleses tivessem de
aprender alemão ou que a Gestapo tomasse prédios nas cidades inglesas
para instalar neles seus ce ntros de interrogatório e tortura.
Simplesmente não poderia admitir, como afirmou em seu discurso, a
presença do "odioso regime nazista" na Inglaterra. Estava falando de
valores, que não poderiam ser mudados ou negociados — e é disso,
precisamente, que vem a fé extraordinária que demonstrou nas próprias
palavras.
"Nós lutaremos na França, nós lutaremos nos mares e oceanos, nós
defenderemos nossa ilha, custe o que custar", disse ele, nas fras es
que antecederam as suas quatro palavras imortais. "Nós vamos lutar nas
praias, nos pontos de desembarque, nos campos e nas ruas; nós
lutaremos nas colinas. We shall never surrender". Ditas essas
palavras, Churchill não fugiu; não foi se exilar no Canadá ou na
Austrália. Ficou em Londres, no seu posto, e correu o mesmo risco de
morrer nos selvagens bombardeios nazistas contra as cidades inglesas
que corriam todos os cidadãos de seu país. Não quis discut ir pontos de
doutrina jurídica com os pares, na época, do ministro Marco Aurélio de
Mello. Não queria saber se o Ibope ia aumentar ou baixar seus índices
de popularidade. Nunca pensou nas próximas eleições. Apenas
considerou, como a primeira-minista Margaret Thatcher faria 42 anos
depois na invasão das Malvinas pela Argentina, que a guerra declarada
pela Alemanha era algo errado. Se era errado, não podia ser aceito. Se
não podia ser aceito, tinha de se r combatido. O que impede, hoje, os
homens públicos brasileiros de pensar assim? Nada. Por que não se
comportam como homens que têm valores? Porque não querem. A presidente
da República e toda a classe política do Brasil não precisam procurar
valores em figuras históricas, ou em outras eras, ou em outros
continentes. Têm à sua volta dezenas de milhões de brasileiros que
passam a vida inteira sem tirar para si um único centavo que não seja
honestamente seu. Recusam-se a viver na criminalidade; preferem
trabalhar duro a cada dia, por salários em geral modestíssimos, a
desrespeitar a lei. Sustentam, com esforços muitas vezes heroicos, sua
família. Vivem em silêncio. São exemplos perfeitos dos valores e
princípios que matam de rir todos os devotos do "conceito de política"
que comanda o Brasil de hoje. ?
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