Rose Saconi
"Morte à repressão! Morte à repressão!". Era o grito de comando dos operários que em julho de 1917 cruzaram os braços, desafiaram a polícia e tomaram conta da cidade. Foi a primeira greve geral em São Paulo que teve fim há 95 anos.
Estopim. A morte de um operário logo no início do movimento foi o estopim para uma conflagração armada nas ruas de São Paulo. Os grevistas pediam regulamentação do trabalho de menores e mulheres, redução da jornada de trabalho - que se estendia até 12 horas - e garantias trabalhistas.
O Estado fez a cobertura completa da greve, usando a chamada "Agitações Operárias".
Na edição de 10 de julho, reportagem narrava o conflito em que o sapateiro espanhol José Iñeguez Martinez morreu.
Manifestantes pararam um veículo em frente da fábrica da cervejaria Antarctica, na Mooca, e quebraram barris de cerveja. "Não tardou que para os dispersar surgisse uma foça de cavallaria para os pôr em debandada", dizia o jornal. Várias pessoas caíram feridas, entre elas o espanhol Martinez, de 21 anos. Baleado no estômago, ele morreu de madrugada.
O Estado de S. Paulo - 14/7/1917 O aviso publicado no anúncios do Estado mostra a dimensão da greve. Não foram só os operários das fábricas que pararam, mas também os proprietários de carroças e caminhões da cidade. Em 1966, Edgard Leuenroth participante do movimento, afirmou que tudo ocorreu de maneira espontânea e as causas foram as péssimas condições em que viviam os operários. Economicamente, os ganhos eram insuficientes para a sobrevivência e qualquer tentativa de organização dos operários era violentamente reprimida pela polícia.
Comício na praça da Sé durante a greve geral. Foto: Arquivo/AE
A paralisação atingiu toda cidade. Alguns bondes da Light tentaram circular, mas foram depredados ou tomados pelos grevistas. "O dia de hontem, em toda a cidade, foi de franca anarchia", descreveu o Estado na edição de 13 de julho.
A greve terminou depois de negociações firmadas entre uma comissão formada por jornalistas doEstado, do Fanfulla (órgão da comunidade italiana) e mais sete veículos de comunicação, governo, empresários e grevistas.
No dia 14, jornal publica a convocação do Comitê da Imprensa para a reunião que seria realizada na Redação do Estado.
O fim da greve foi decidido num comício no Brás, em 16 de julho.Todas as reivindicações foram aceitas.
"A Comissão da Imprensa, dando por finda a sua missão, julga cumprir um dever deixando consignado um applauso à boa vontade geralmente manifestada por todos no sentido de dar solução ao conflicto e de preparar o advento de uma nova éra, mais bella, na história das relações entre operarios, patrões e representantes do poder público no Estado de S. Paulo e no Brasil."
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