24/04/2012 - 12h30 Duzentos e cinquenta mil bolivianos, 80 mil paraguaios, 50 mil peruanos. Os números da Pastoral do Migrante, instituição em São Paulo que atua na defesa de direitos humanos, mostram a grande quantidade de imigrantes que vivem na capital paulista. Em muitas cidades brasileiras, há menos habitantes do que algumas comunidades de estrangeiros em São Paulo. Atentos a esta tendência, profissionais das UBS (Unidades Básicas de Saúde) de bairros com grande concentração de estrangeiros, como Bom Retiro, Pari, Mooca, Brás e Canindé, criaram estratégias específicas de atendimento. "Temos seis mil bolivianos, o que corresponde a 40% da nossa demanda. Também há na nossa Unidade coreanos, peruanos, haitianos, entre outros", disse Clélia de Azevedo, gerente da UBS Bom Retiro, que tem como foco o atendimento de gestantes. Nesta UBS são disponibilizados, em espanhol, calendários de vacina, folders sobre DST, sífilis e materiais específicos para gestantes. A equipe de profissionais da saúde também utiliza uma rádio voltada à comunidade boliviana para passar informações sobre saúde. "É um importante meio que temos para falarmos sobre as doenças sexualmente transmissíveis, a dengue...", disse Clélia. Claudomiro Guerreiro é enfermeiro especialista em Saúde da Família. Ele contou à Agência de Notícias da Aids que 24 agentes comunitários (entre eles, um que possui espanhol nativo) estão visitando famílias da região do Bom Retiro, locais de atração cultural frequentados por estrangeiros e oficinas de costura para aconselhar sobre saúde. "Estivemos recentemente em mais de 20 oficinas. Todas tinham problemas com ventilação", relatou. Os diagnósticos mais frequentes entre os bolivianos atendidos na unidade do Bom Retiro são de tuberculose e sífilis. Muitos chegam no Brasil com a doença. A Unidade oferece o exame convencional de HIV e, em breve, de acordo com a coordenadora do local, ofertará também o teste rápido. Comportamento A médica da Família e Comunidade Fernanda Affonso explicou que os bolivianos vivendo em São Paulo têm por costume acompanhar as mulheres nas consultas médicas. "São eles quem decidem o método contraceptivo que as esposas vão usar. É uma cultura patriarcal, com muitos casos até de violência doméstica", contou a médica. "Uma vez orientei uma paciente com tuberculose a se prevenir para não engravidar naquele momento, por questões de saúde, e ela me disse que o marido se cuidava. Mas o método preventivo deles era o coito interrompido", acrescenta. A equatoriana Miriam Álvares, que tem dois filhos e foi à UBS porque um deles estava "emagrecendo demais", reconheceu a importância da comunicação em castelhano, mas afirma que nem sempre é possível um diálogo preciso. "Os profissionais se esforçam para atender, embora tenham coisas que é difícil a gente expressar por causa do idioma". Miriam está há três anos no Brasil e afirma que o sistema de saúde brasileiro é mais organizado que o equatoriano. "Atendem melhor. São mais amáveis". UBS Mooca tem imigrantes como agentes de saúde Desde 2008, a Unidade Básica de Saúde da Mooca oferta o teste rápido de HIV. Até o final do primeiro semestre deste ano, a previsão é que esteja funcionando também um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para o HIV e aids na unidade. "A diferença é que o CTA propicia um atendimento mais especializado", explicou a psicóloga da área de Prevenção do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo, Elza Ferreira. A UBS Mooca também tem como característica receber muitas pessoas que falam espanhol. Segundo Joana Gomes, que irá coordenar o CTA da Mooca, oitos agentes de saúde distribuíram nos últimos seis meses na região 41 mil preservativos masculinos para adultos, 3.200 para jovens e 400 femininos. "A distribuição envolve também essa população de estrangeiros, mas procuramos fazer com critério, privilegiando aqueles que mostram interesse", disse. Entre os oito agentes, duas que são imigrantes: a boliviana Leonarda Corina e a paraguaia Zulma Areco. Com a colaboração delas, a UBS Mooca produziu folders e guia de bolso sobre saúde em espanhol. A Unidade está selecionando voluntários para atuarem como agentes de saúde. Conhecedores da cultura e da língua castelhano são bem-vindos. Mais informações pelo e-mail ctamooca@gmail.com. Relato da agente de saúde boliviana Leonarda Corina A boliviana Leonarda Corina (à esquerda) e a paraguaia Zulma Areco atuam como agentes de saúde na UBS Mooca Crédito fotográfico: Divulgação "Eu vou ao Brás, em um local onde os bolivianos se concentram, Rua Coimbra. Eles se reúnem em festas, comemorações relacionadas à Bolívia e nos finais de semana. A gente aborda as pessoas e também deixa preservativo em alguns lugares: quem pega é quem realmente vai usar. Visitamos as oficinas de costura, onde há jovens e adultos. Tem lugares que deixam entrar, alguns não deixam. Dizem que o dono viajou e que não sabem quando volta. Dentro da oficina, a gente começa a falar em espanhol sobre o CTA, explicamos o que significa, falo sobre hepatites... Eles escutam com muita atenção, perguntam. Às vezes a enfermeira fala em português e eles ficam com um pouco de medo, mas acabam participando. O boliviano é preso a tradições. Usa tabelinha, não quer anticoncepcional, preservativo. Eu falo que eles têm que se adaptar à cultura brasileira. O brasileiro paquera bastante, mas usa preservativo. Se eles querem ficar com uma, com outra, precisam se cuidar." | Fábio Serrato Leia também: Diferenças culturais dificultam acesso de haitianos ao SUS Dica de Entrevista Assessoria de Comunicação Secretaria Municipal da Saúde (SMS) Tels.: (11) 3397-2370 / 2372 E-mail: saudeimprensa@prefeitura.sp.gov.br |
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