Ainda muito criança, já o via, calmo, bonachão, largas e lentas passadas, indo ao trabalho. Trabalhava num grande banco na cidade , como chamávamos o centro , há muitos anos, assíduo, pontual,
"seu" Albano Luiz a todos cumprimentava com toda a educação.
Porém sr. Albano tinha um outro lado , que os adultos escondiam de nós, crianças e que só fiquei sabendo quando passei a participar das conversas de "gente grande".
O sr. Albano assediava a todas empregadas que trabalhavam na sua casa, umas com e outras sem sucesso e pasmem na presença de sua esposa , a vetusta ,como ele , dona Rita dos Anjos. Dona Rita , sempre com problemas de reumatismo e Albano, embora mais idoso que ela , muito forte.
Próximo a eles morava o seu filho Inácio Manuel com a esposa da. Ismênia dos Prazeres, não tinham filhos. O outro filho , solteirão , morava no Rio de Janeiro, para onde fora transferido num alto cargo do Governo Federal, era o Augusto.
Dona Ismênia , proclamava aos quatro ventos que a dezena de propriedades que os sogros tinham , um dia seriam suas, porque os dois já eram muito velhos, segundo ela.
Pois bem, eu lembro muito bem dela , a nós crianças vizinhas tratava com todo carinho , ao contrário do marido e dos sogros que ela tratava rispidamente.
Foi um dos primeiros choques que eu tive na vida, nos meus dez anos, dona Ismênia foi acometida por uma doença misteriosa e grave na primeira quinta-feira da Quaresma de 1959, o seu quadro foi agravando e a mesma faleceu no Sábado de Aleluia.
Como faleceu em casa e de lá saiu o enterro, nós garotos curiosos fomos ver a vizinha . A vizinhança em peso no velório, dona Rita contemplava a nora e falava com um forte sotaque transmontano:" Ai que linda está " e chorava.
O sr. Albano muito sutil, como por exemplo um elefante , falava à sua esposa " Cala-te ó mulher ! deixa-te de lamúrias e pediu desculpas aos vizinhos, deixando a célebre pérola que os mesmos de então nunca mais esqueceram: "Perdão, ela trouxe esse hábito da aldeia dela, lá só se lamuriam".
Houve quem se retirou para rir fora da casa.
Uma outra situação que eu lembro do sr. Albano Luiz, foi do aparecimento de uma senhora recém casada com um rapaz da rua e de muitas posses, a Vilma da Conceição. Como sempre se viam pois eram vizinhos, passaram a se cumprimentar e o sr. Albano puxando papo. Passados alguns dias , sr. Albano manteve a sua fama de mau, como dizia Erasmo Carlos e a convidou a trabalhar em sua casa e finalizou que ele era um patrão bonzinho, que o que se falava a respeito dele era invenção do povo. Vilma que o que tinha de bela, tinha de rápida nas respostas, muitas vezes chegando às raias do histerismo, não deixou por menos e respondeu com vários impropérios .
Esses personagens povoaram a minha infância e até hoje , ficam como estivessem bailando na minha mente, fazendo parte de sonhos , alguns dos mais esdrúxulos, mas foram pessoas que trouxeram uma certa liga, no relacionamento entre os vizinhos, uma amizade sincera na maior parte dos casos e vida alegre e feliz no bairro.
Podia se sentar à porta nas noites de verão, enquanto as crianças brincavam na rua, os homens batiam papo nos bares ou jogavam sueca no armazém do meu pai ou na sapataria do Atílio.
Os jovens reunidos na banca do Alfredo ou no bar Pif-Paf, onde comentavam sobre os brotinhos , sobre bailes , sobre futebol ou sobre os últimos sucessos musicais.
Velhos tempos , belos dias , como diz o Robertão.
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