por Marcos Júnior
Nelson Elias é um dos maiores ícones da fotografia brasileira, com coberturas memoráveis na política, esportes e variedades.
Atualmente aposentado, o filho de Elias José Derzi e Nabia Rachid Maluf, nasceu no bairro do Canindé, na capital paulista, em 07 de abril de 1931 e foi batizado na Igreja do Pari.
Estudou no Colégio Prudente de Moraes, depois ingressou na Aeronáutica e prestou concurso para rádio-telegrafista, tendo sido aprovado em primeiro lugar, com nota 8,11.
A paixão pela fotografia começou na infância.
"Meu pai me dava um dinheirinho para eu comprar lanche e eu guardava, sonhando com uma máquina de plástico que via todos os dias na vitrine de uma loja, no caminho da escola. Como o dinheiro era pouco, comecei a trabalhar escondido do meu pai, com uma caixa de engraxate e consegui, finalmente comprá-la", disse Nelson Elias em 24 de janeiro de 2012, na redação do Portal Terceiro Tempo.
Na Aeronáutica o sargento-fotógrafo Vacile Volcovi Filho foi quem lhe deu os maiores ensinamentos em fotografia, o que lhe motivou a prestar outro concurso, desta vez para fotógrafo-técnico pericial.
Aprovado na polícia, Nelson Elias deixou a Aeronáutica e passou a dividir seu tempo em duas funções: pela manhã trabalhava como repórter fotográfico policial no jornal "A Hora", e à tarde fazendo as fotos periciais de acidentes, assaltos e mortes na cidade de São Paulo para a polícia.
Com o fechamento do jornal "A Hora", foi pedir trabalho em outro periódico paulistano, o "Última Hora", tendo como editor-chefe, o saudoso Samuel Weiner.
No "Última Hora" Nelson Elias fez história. Foi um dos jornalistas presentes na casa de Jânio Quadros no Guarujá, logo depois da renúncia do então presidente da república, em 1961.
Muitos políticos foram fotografados por Nelson Elias ao longo de sua brilhante carreira. Comícios de Ademar de Barros e do próprio Jânio Quadros, Paulo Maluf, e Franco Montoro, entre outros.
Nas coberturas esportivas para o "Última Hora" tornou-se um grande admirador de Toninho Guerreiro, ex-centroavante do Santos e São Paulo (na foto ao lado, Toninho Guerreiro, Nelson Elias e Ademir da Guia).
"O Toninho era uma simpatia de pessoa, atendia a todos com muito carinho e respeito", relembra Nelson Elias.
Também passaram por sua teleobjetiva imagens de Pelé, Ademir da Guia, Rivellino e Pedro Rocha, nas décadas de 60 e 70.
Um fato curioso aconteceu em Piracicaba, em um jogo do XV contra o Palmeiras.
"Eu estava atrás do gol do XV, afinal o Palmeiras era o favorito e o mais normal seria um gol alviverde. O jogo estava "morno" e um amigo meu, também fotógrafo, contou uma piada e eu comecei a rir, logo depois de um gol do Verdão. Um torcedor do XV, no alambrado me perguntou se eu estava rindo porque o Palmeiras tinha feito um gol, e eu respondi que logo sairia o segundo. E saiu mesmo, um minuto depois... Eu tive que sair escoltado, o torcedor juntou uma dezenas de amigos para me pegar", diverte-se até hoje Nelson Elias com o episódio.
Também não foram poucas as coberturas de acontecimentos do dia-a-dia de São Paulo. Um trabalho que lhe rendeu um prêmio de fotografia foi no Edifício Joelma, em um dos maiores incêndios que a capital já vivenciou.
Nelson subiu no prédio e fez fotos da laje, registrando helicópteros sobrevoando o local, corpos carbonizados e pessoas se jogando pelas janelas durante a tragédia.
Um acontecimento pitoresco aconteceu na antiga Casa de Detenção, na região da Avenida Tiradentes.
O investigador José Pedro Marcondes de Godói, seu amigo, o chamou para um flagrante no local.
"O Godói pediu para eu ficar na sacada de um prédio em frente a um arbusto, em uma rua próxima à detenção. E eu não estava entendo nada. Ele desceu e falou, fique de olho naquele arbusto e fotografe. Você vai ver já, já. Foi quando começaram a sair os presos, fugindo por um buraco após terem cavado um túnel. Eu disparei minha máquina e fiz várias fotos, enquanto o Godói e os outros policiais prendiam os fugitivos", conta Nelson.
A primeira cirurgia com utilização de laser também foi registrada pelas lentes de Nelson Elias, e nessa ocasião ele foi muito astuto para conseguir matéria exclusiva para o "Última Hora".
"Muitos jornalistas estavam no Hospital Albert Einsten para a cobertura da cirurgia pioneira que seria feita pelo médico alemão Isaac Kaplan. E a equipe do hospital disse que nós poderíamos acompanhar o trabalho dos médicos por um vidro, que ficava um pouco distante da mesa de cirurgia, onde o paciente com câncer seria operado. Cheguei na porta da sala de cirurgia e me apresentei a uma enfermeira como fotógrafo da Revista Médica e amigo do Dr. Kaplan. Ela me deu o jaleco, máscara, luvas e eu documentei tudo ali, de pertinho, enquanto os outros fotógrafos ficaram do lado de fora. Antes, ainda fotografei o Dr. Kaplan no vestiário, vestindo-se para a cirurgia", contou Nelson Elias.
No final descobriram que Nelson não era fotógrafo da Revista Médica, mas não teve maiores problemas. Os médicos até o parabenizaram pelo trabalho.
Nelson também fez coberturas de corridas em Interlagos, em campeonatos brasileiros de marcas.
"A primeira vez que fui a Interlagos, para fotografar, eu não conhecida o circuito e não sabia onde eram os melhores pontos para fazer imagens dos carros, ultrapassagens, etc. Os fotógrafos mais experientes me sacanearam e me disseram para eu ira na Curva do Pinheirinho. E eles no fim do Retão, Reta Oposta... Mas eu dei uma sorte danada, quando um carro capotou e eu peguei toda a sequência da capotagem. Felizmente o piloto não se machucou e minhas fotos estamparam a capa do jornal", comemora Nelson Elias.
Na vida pessoal, a história de amor com sua esposa Joannina Lemes Elias (com quem é casado desde 31 de dezembro de 1955), merece um destaque especial, desde o primeiro encontro, na estação da Luz.
"Senti que ela era a mulher da minha vida! Me aproximei para puxar conversa. Ela era da cidade de Bebedouro-SP e estava em São Paulo para o enterro de uma tia, e não quis conversa comigo. Disse que seu pai havia lhe alertado para não dar confiança a nenhum homem na capital. Eu disse que gostaria de conhecê-la, mas ela estava irredutível. Eu insisti e ela disse então para eu escrever uma carta para o pai dela, pedindo autorização. E me deu o endereço errado e a carta voltou... Não tive dúvidas e fui até Bebedouro. Revirei a cidade de pernas para o ar até encontrá-la, depois de perguntar para várias pessoas sobre uma moça linda, loira, que havia viajado para São Paulo para o enterro de uma parente.
Ela ficou surpresa quando me viu, não acreditou! Começamos a namorar e casamos", emociona-se Nelson.
Nelson e Joannina são pais de uma filha, Carmen Giorgina e avós de uma neta e um neto: Tati e Cletú.
Carmen Giorgina emociona demais Nelson, uma vez que a moça, médica, sofreu um acidente e ficou paraplégica.
O casal Nelson e Joannina reside na zona sul de São Paulo, no bairro de Cidade Ademar.
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